Na Páscoa de 1980 realizou-se a excursão a Torremolinos, tão ansiada durante todo o ano.
Logo há chegada ao complexo Zodiaco em Benalmadena, nos arredores de Torremolinos, tivemos uma antevisão do que iria ser aquela semana, com um enorme aparato militar diante de uma das torres de apartamentos.
Uns estudantes do Maria Amália, mais acalorados tinham decidido lançar um dos electrodomésticos da cozinha pela varanda, directamente para a piscina. Como o patrulhamento da zona estava a cargo dos militares e não da Guardia Civil devido à ameaça de atentados por parte da ETA, foi mesmo com soldados em jeeps camuflados e armados de semi-automáticas que apanhámos logo pela frente.
Chegámos à torre onde se fazia o check-in geral, a Torre Piscis e no meio de toda a burocracia envolvendo a identificação, preenchimento de papelada e agrupamento por apartamento de todos os excursionistas, acabei com o meu BI retido como precaução da unidade hoteleira para o caso de sairmos sem pagarmos eventuais (quase certos, pronto!) danos que fizéssemos durante a estadia. Comecei bem!
E lá vamos nós! Tudo a correr para os apartamentos, a despejar o menos possível as malas e a colocar os consumíveis em qualquer lado que estivesse mais à mão, porque a nossa vida não era aquela e o tempo fugia!
Enquanto uns procuravam uns bares para comer uns cachorros ou hambúrgueres e entornar umas San Miguel, Cruzcampo ou Estrellas, outros marchavam para a piscina. As donzelas, mais ponderadas, faziam o levantamento local dos supermercados e drugstores e abasteciam-se de frutas e verduras. Quem mais se lembraria de cozinhar nos apartamentos?!
Nós pelo nosso lado estávamos bem providos de latas de salsichas da Nobre, feijoadas e chispalhadas da Frami, pão de forma e queijo flamengo, só nos teríamos que preocupar com as bebidas e com quem nos lavasse a louça!
Nessa noite fizemos a pé toda a avenida marginal até chegarmos a Torremolinos. Um percurso que passaríamos a fazer diariamente, nos dois sentidos, e logo após um jantar numa esplanada da Calle San Miguel, toca a conhecer a Movida Torremolina.
Chegamos à Avenida de Palma de Mallorca, a principal da cidade e onde se situam a maioria das discotecas, está infestada de estudantes e da belas raparigas que nos oferecem com um largo sorriso uns vouchers de desconto para discotecas. Quase escolhemos aonde ir pelas beleza das hospedeiras.
Vamos começar a primeira ronda da semana, Joy, Papillon, Gatsby, Borsalino, Eldorado, Tiffany’s, Jay-Alay, Palladium, Number One, Cleopatra, Boga-Boga (onde pela primeira vez vimos nevoeiro artificial), já não importa a quais fomos na primeira noite, foram muitas e continuámos nas outras noites, seleccionando-as e repetindo a visita às que gostámos.
Invariavelmente acabávamos na melhor de todas, o Piper’s Club.
Primeira noite, chego à porta do Piper’s e deparo-me de imediato com estudantes de Torres Vedras e com uma velha paixoneta, começamos bem, mesmo! Faz-me um sorriso enjoado e nem olhou mais para mim!
Adiante que a discoteca é grande e há mais gaivotas no ar (private joke!). Já aqui descrevi o Piper’s na crónica ‘’Poder en La Oscuridad’’ e o ambiente em Torremolinos em ‘’Durexes e Sais de Frutos’’ pelo que não me vou alongar muito nessa descrição.
Ficámos fascinados pela sua dimensão, pela sua decoração e pela tecnologia da segunda pista de dança que estava assente nuns hidráulicos o que lhe permitia subir e descer.
Faziam-se filas para ganhar um lugar numa cadeira baloiço gigante com lotação para oito pessoas e faziam-se filas no longo balcão cuja dimensão estava marcada pelo desenho da fita métrica que o decorava.
Rapidamente encontrámos um pouso certo para nos dedicarmos à ornitologia e ao birdwatching.
Como me poderia perder demasiado em detalhes irrelevantes, socorri-me a este ponto de um resumo cientifico da Spea – Sociedade Portuguesa Para o Estudo das Aves sobre a nossa actividade enquanto permanecíamos no Piper’s.
COMO IDENTIFICAR AS AVES NOCTURNAS DA ANDALUCIA
A identificação de aves no campo constitui um desafio aliciante. Embora á primeira vista possa parecer algo relativamente fácil, a verdade é que pode ser uma tarefa bastante complexa e que exige alguma paciência. A tendência natural de quem está a dar os primeiros passos neste domínio é olhar para as aves como um todo. Deste modo podem perder-se muitos detalhes fundamentais para a identificação. Cada ordem de aves apresenta geralmente características próprias que as distinguem das demais. Assim, a primeira preocupação deverá ser aprender a olhar de uma forma selectiva para as aves. Há vários aspectos a ter em conta quando somos confrontados com uma espécie desconhecida:
Tamanho:
A correcta avaliação do tamanho de uma ave constitui o primeiro passo para a sua identificação. Sempre que possível, o tamanho deve ser calculado usando outras aves mais conhecidas como termo de comparação.
Cor:
A coloração geral da ave constitui um dos aspectos mais importantes a ter em conta. Convém notar que, sob luz desfavorável, as cores podem parecer diferentes daquilo que na realidade são.
Marcas particulares:
A maior parte das aves possui características particulares de plumagem que as distinguem das outras. Deve pois procurar-se qualquer marca que se saliente da plumagem. Se não existir, qualquer outra saliência evidente na silhueta produzirá o mesmo efeito.
Forma e silhueta:
A forma e a silhueta das aves constituem também boas características para auxiliar à identificação. A sua correcta avaliação permitirá, à partida, eliminar várias hipóteses.
Comportamento:
Muitas espécies de aves têm comportamentos característicos. A sua observação cuidada poderá constituir um bom indício para a identificação.
Cantos e chamamentos:
A maior parte das aves emite cantos e chamamentos distintivos. Escutar os sons produzidos pelas aves constitui uma das formas mais seguras de as identificar.
Em voo:
Muitas vezes apenas é possível observar as aves em voo. Normalmente, neste tipo de observações, tudo se passa muito depressa. A identificação tem de ser feita imediatamente pois, regra geral, não há segunda hipótese. O tipo de voo (planado ou batido, por exemplo) e a forma como se desenrola (em linha recta ou circular, por exemplo) constituem também elementos importantes.
Plumagens:
Em muitas espécies, as juvenis e imaturas têm plumagens diferentes das aves adultas e os machos têm plumagem diferente das fêmeas (excepto na Tailândia!). Para além disso, muitas espécies mudam de aparência consoante a época do ano, apresentado uma plumagem mais vistosa durante a época nupcial e ficando depois com um aspecto mais discreto durante o resto do ano (ou do casamento!)
O local escolhido foi então um patamar situado mesmo diante do bar e estrategicamente colocado junto ao famoso biombo translúcido.
Para os que andam por aqui a fazer turismo e não lêem as crónicas (agora temos um blog, sabiam? Podem aceder às crónicas e outros posts pelos títulos ou temas!) volto a descrever o famoso biombo e a sua finalidade.
Durante a noite várias dançarinas iam dançar à vez por trás de um biombo com painéis feitos num qualquer tecido translúcido o que permitia ver a silhueta da bailarina e os seus movimentos insinuantes.
Se no inicio o nosso interesse residia em ver as bailarinas ao vivo e a cores já que elas acediam às traseiras do biombo por uma porta aí situada e a sua passagem não era visível de outro ponto da discoteca, já ao fim de alguns dias o atrevimento era tal que nos permitia ir dançar com elas para trás do biombo quando não o deitávamos abaixo, com um ‘’ups, foi sem querer!’’ e um olhar rápido para os gorilas da segurança que nos marcaram logo muito cedo!
Voltaremos ao Piper’s numa outra noite.
Nessa mesma noite voltámos a pé para Benalmadena, fazendo ainda uma curta paragem numa ou outra discoteca situada pelo caminho. Sempre a beber um gin tónico para cobrir o consumo mínimo. Tivemos assim suficiente combustível para fazer os escassos 4 kms de marginal que mediavam entre as duas localidades.
Ao chegarmos ao Zodiaco fomos surpreendidos pela algazarra que vinha das zonas da piscina e como quem não quer a coisa fomos fazer uma patrulha para avaliar a situação.
A piscina estava com mais movimento que a piscina de S. Pedro de Muel num dia de Agosto! Dezenas de miúdas dentro de água e muitas sem se preocupar com o Dress Code apropriado!
Já esfregávamos as mãos … com o bronzeador, pensando em ir ao apartamento vestir um fato de banho, quando ouço alguém a chamar por mim de dentro da piscina. Olhei para o grupo de raparigas e não reconheci nenhuma, a menos que fosse alguma das que se escondiam por trás das outras ou que tinham submergido nesse momento. Decididamente era difícil passar anónimo na noite espanhola!
Aproximo-me da piscina e finalmente vejo quem me chamara. Uma bela morena de olhos verdes e uma estranha coloração branca nas pestanas. A Paula G. Tínhamos tido um curto namoro de Verão no ano anterior na Torralta do Alvor. Sem telemóveis ou net, acontecera o mesmo que aos outros namoricos de Verão fora da Foz. Adeus e até um dia!
Ela abre-me os braços com um enorme sorriso pretendendo-me abraçar e encharcar-me de alto a baixo. Tento não cair nessa mas agacho-me junto à beira da piscina para a beijar.
Quando dou por mim estou completamente debaixo de água, todo vestido e calçado!
O Filipe Monteiro do Pó, em excursão pela sua escola, o Colégio Manuel Bernardes, não encontrou melhor forma de me dar conta da sua presença e de como estava contente por me ver, senão dar-me um encontrão para dentro de água!
Ok. Ainda agora chegámos e já tinha meia Torremolinos a rir-se da minha situação!
Já não bastava a gaivota de Torres Vedras!
(continua)
M - Pop Musik
1 comentário:
Companheiro,
muito obrigado pelo texto. Descobri este blog depois de uma descarga saudosista da viagem de finalistas de 96 a Torremolinos...
Até me arrepiei com esta descrição!
Torremolinos marca a vida de todo o estudante que lá passou e eu não sou excepção. Mesmo assim, nunca conseguiria fazer uma descrição como a sua e estive lá 16 anos depois!
Muito parabéns!
Enviar um comentário