Ainda tenho presente o cheiro distintivo das sapatilhas e dos tacos de madeira encerados do ginásio e dos balneários do Colégio Ramalho Ortigão.
Os balneários ficavam por baixo das escadas que davam acesso ao bar/refeitório orientado pela D. Luisa.Este bar era ponto de encontro obrigatório da parte da manhã para comprarmos os fantásticos queques que a D. Luisa fazia e os caramelos Vaquinha a 3 tostões a unidade (lembras-te Luis Gama?).
Quando almoçávamos, a D. Luisa fazia-nos as delícias com os seus ovos de codorniz estrelados com duas gemas.
Nas tardes de Verão preparava os seus famosos gelados caseiros feitos com refresco Alsa ou Royal que eram colocados em cuvetes no congelador e em cujos cubos espetava um palito. No intervalo grande da tarde sorvíamos estes cubos até não restar mais do que um cubo de gelo, já sem sabor.
No ginásio esforçávamo-nos para aprender os saltos no bock, cada vez mais alto, e para aguentar os exercícios no alto dos espaldares. Os nossos professores de ginástica, primeiro o Prof. Silva Bastos e depois o Prof. Berjano (os rapazes) e a Profª Rosa (as meninas) permitiam-nos, quando o tempo melhorava, ter os exercícios de ginástica nos recreios (ainda separados por sexo) e aí tivemos também as nossas primeiras provas de desporto com o basquetebol e o futebol à cabeça.
Dois dias por semana e ao final da tarde corria ainda para o antigo quartel dos Bombeiros, situado na Rua Miguel Bombarda (ainda hoje conhecida pela Rua dos Bombeiros) onde é hoje o Caldas Shopping.
Nessa altura, os Bombeiros removiam as suas vetustas viaturas do quartel cedendo o espaço para as aulas extra de ginástica. Também o cheiro dos tacos de madeira do quartel e das manchas de óleo cobertas de serradura me ficaram para sempre na memória.
Na Primavera realizava-se o Sarau de ginástica na Praça de Touros onde nos exibíamos por classes etárias e todos sem excepção tínhamos direito a uma medalha ou a um pequeno crachá com o símbolo dos Bombeiros. Recordo-me que os crachás variavam do ouro, prata e bronze ao latão conforme o desempenho que tivéssemos no Sarau e sendo o último dado a título de presença.
A ida para o ciclo na Escola Industrial e Comercial trouxe-nos maiores oportunidades de praticar desportos, iniciando-nos na prática do voleibol e do andebol e desenvolvendo as nossas aptidões na prática do basquetebol e do atletismo (corrida e saltos) com a participação em torneios intra e inter-escolares. Eram os desportos tradicionais que se praticavam em todo o país e para os quais as escolas estavam preparadas em termos de infraestruturas.
Mas no segundo ano do ciclo tivemos uma grande surpresa!
O Prof. Antero ‘’Té’’ Mil Homens era o professor de educação física preferido e mais carismático nos meados dos anos 70. Pelas meninas falem elas, pelos rapazes por causa do seu Mini Cooper S superturbinado com dois carburadores duplos Weber, com paralamas alargados e jantes minilite de 10’, com uma aparelhagem de som de top que incluía uns descomunais headphones daqueles com os auriculares almofadados à anos 70. Mais mais tarde seria o seu VW-Porsche 914 e a sua Honda 750 Four azul a despertar a admiração de todos!
Nas traseiras da Bordalo Pinheiro, onde hoje fica a D. João II, existia um enorme baldio, bastante desnivelado e semeado por algumas amoreiras, donde colhíamos as folhas para os nosso bichos da seda (será que os miúdos ainda os criam?) e que era utilizado por nós para fazer as provas de corta-mato (onde o Mário Fialho ‘’Botas’’ e o Albano limpavam tudo!).
Um dia, o Té chamou-nos a todos e declarou que as próximas aulas de educação física (e também os nossos tempos livres) seriam dedicadas ao verdadeiro trabalho físico.
E toca de nos fazer arrancar e queimar as plantas, aplanar o terreno (à força de pazadas e de baldes (sem máquinas!) e torná-lo apropriado para daí fazer um campo (de futebol, pensávamos nós!). Arranjámos ancinhos, pás , baldes, caixotes, enfim tudo o que servisse para limpar e nivelar o campo.
Ao fim de um trimestre tínhamos a obra concluída e uma surpresa à nossa espera. Um belo dia, um camião chegou trazendo duas enormes balizas de rugby e com a nossa ajuda estas foram erguidas nas extremidades do terreno. Tinha nascido o primeiro campo de rugby das Caldas!
No trimestre seguinte, já nem queríamos outra coisa, as aulas masculinas (as meninas tinham aulas com a D. Rosa que isto das misturas ficou para mais tarde!) passaram a ter como principal componente a prática de rugby e termos como tackle, knock-on, drop-kick, scrum ou try (ensaio) passaram a fazer parte do nosso vocabulário diário.
Estávamos no Inverno de 1974/1975 e as minhas costas nunca mais foram as mesmas!
Ao meu querido amigo António Vidigal que hoje completa umas tantas Primaveras (e melhores Verões!) e a todos os que desde o tempo do Té se empenharam para que o Rugby, a modalidade desportiva que melhor exalta o espirito de camaradagem, se mantenha e se dinamize na nossa cidade.
"Rugby is a beastly game played by gentlemen; football is a gentlemen’s game played by beasts; american football is a beastly game played by beasts."
Henry Blaha
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