terça-feira, 4 de maio de 2010

POSTERS E A SUZY QUATRO


Em meados dos anos 70 a nossa família mudou-se para o Burlão. Para trás ficaram as nossas brincadeiras de infância, um batalhão de primos a viver no mesmo prédio da Rua do Jardim (Alexandre Herculano) em que só se fechava a porta da rua e onde corríamos livremente por todos os andares, escolhendo onde jantar (onde não houvesse peixe ou sopa!) e muitas vezes onde dormir, pois já de pijama enfiávamo-nos na cama uns dos outros a ler um livro em comum ou a contar estórias e quando os nossos pais davam por isso tínhamos adormecido e por lá ficávamos, até ao dia seguinte.
A nossa ida para dois prédios distintos e em lado opostos do largo do Burlão (na altura Praça Marechal Carmona e hoje Praça 25 de Abril) não nos impediu de manter o contacto diário e de manter um intercâmbio saudável de bandas desenhadas, revistas importadas e discos, muitos discos!
Éramos agora 14! E tal como então, ainda hoje as pessoas têm dificuldade em distinguir de quem somos irmãos ou quais são os nossos pais. Íamos para a escola juntos (Ciclo Preparatório na Bordalo e Liceu no Parque), íamos aos cafés juntos, íamos ao cinema, à praia e até ao médico juntos. Lembro-me de uma vez que fomos todos ao oculista para analisar o nosso grau de visão e saímos de lá todos com óculos (usei-os por três dias, até hoje!)
Os nossos quartos, que mais pareciam camaratas, eram o nosso espaço exclusivo e o único ponto das casas em que era permitido uma personalização.
Assim, as paredes dos quartos iam progressivamente sendo cobertas de posters de diferentes dimensões, até não restar um único ponto em que fosse possível ver a parede. Julgo mesmo que no quarto dos meus primos Ruben, Pedro e Francisco (Kika) os posters, qual hera trepadeira, começaram a cobrir também o tecto.
Os posters identificavam as nossas preferências musicais ou o carisma das bandas e vocalistas.
No meu quarto havia ainda uma concessão à minha outra grande paixão, a Fórmula 1. Nessa altura comprava as revistas Motor e Volante (da 1ª série, formato gigante) e utilizava os posters dos grandes pilotos que vinham nas páginas centrais. Assim, posters de Jackie Stewart, Emerson Fittipaldi, Jacky Ickx, Jean Pierre Beltoise, Chris Amon e Nanni Galli intercalavam-se entre outros dos Alan Parsons Project, Space, Pink Floyd, T Rex, Santana, Grateful Dead, ZZ Top e Roger Daltrey com The Who,
Já os meus primos, por influência do Ruben, mais velho e que já nessa altura compartilhava os seus gostos musicais com o João Bernardes, preferiam os Credence Clearwater Revival, Slade, Nazareth, Status Quo, Rick Wakeman com os Yes, Styx, Led Zeppelin, Sweet, Deep Purple, Jethro Tull (Ian Anderson), Jimmy Hendrix, Supertrump, Emerson, Lake & Palmer, Yardbirds, Gary Gliter, Black Sabbath, Van Halen, Moody Blues, Alice Cooper e Ozzy Osbourne, Gerry Rafferty, Procol Harum.



As raparigas compravam avidamente as edições alemãs da Pop e da Bravo, e os seus quartos enchiam-se de posters de Neil Diamond, Cat Stevens, Elton John, Queen, Leo Sayer, Chicago, David Bowie, David Essex, Fleetwood Mac, Joe Cocker, Jefferson Airplane, Bob Dilan, Janis Joplin, Elkie Brooks, Joan Baez, James Taylor, Carole King, Genesis (com Peter Gabriel) e sempre, Mick Jagger e os Rolling Stones.
A moda alastrou para as capas dos enormes dossiers negros que levávamos para a escola, neste caso com um mural de pequenas fotos dos nossos artistas preferidos.
Era uma autêntica Postermania que reinava nas duas casas dos Caiados e muito provavelmente por toda a cidade.
No meio de todos sobressaía uma figura, uma deusa em cabedal preto (na altura não haveria látex!), e farta cabeleira de quem sabíamos todas as letras de cor. A sua voz rouca e o seu espírito rebelde contagiava-nos a todos.
Todos nós, sem excepção, tínhamos um poster (e toda a discografia) da Suzy Quatro!


Suzi Quatro - Can The Can



Suzi Quatro - 48 Crash

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