Paulo, obrigado pela crónica - e post - sobre o DISCO AMARELO.
Foi uma daquelas coincidências, um daqueles momentos em que o tempo sincroniza as acções e pensamentos de duas ou mais pessoas à distância: tu voltas a publicar a crónica sobre O SÓtÂO - a primeira que aqui publicaste e que eu não tinha lido no post original; Eu leio essa crónica, revejo as memórias desse sótão, e lembro-me do "disco amarelo"; escrevo um comment à tua crónica mencionando esse disco... e tu respondes "Nem de propósito, a crónica de quarta-feira é sobre esse disco e está concluida..." E ainda por cima acabas por publicar a crónica logo nesse dia (ontem) por outra coincidência: o aniversário do Johnny Crespo Wilson.
Abençoada "rede" e abençoado Facebook.
Este disco - o DISCO AMARELO - ficou-me para sempre na memória. Uma daquelas memórias cuja força não conseguimos bem compreender, talvez potenciada pelo mistério... Revi a imagem daquela rodela de vinil amarelo vezes sem conta na minha cabeça, acompanhada de fragmentos de memória algo difusos... a imagem do sótão, uma vaga memória da música contida nesse disco (era disco-sound), algumas caras de pessoas, uma sensação de "domingo à tarde", um sentimento de excitação e de alegria adolescentes...
Essas memórias sempre adensaram o mistério sobre esse disco - e dessa forma devem ter contribuído para a minha relação com a música e em particular com os discos de vinil.
De cada vez que pensava nesse disco - e foram vezes sem conta - perguntava-me: que disco seria esse? que grupo? que música? Lembrava-me que era um máxi-single, que teria sido a primeira vez que tinha visto um máxi-single... Em que ano teria sido? De quem seria o disco? Onde estaria "esse disco"? E pensava exactamente nessa cópia do disco: onde estaria esse objecto tão fortemente marcado na minha memória?
Ler esta tua crónica sobre o DISCO AMARELO foi por isso um momento de revelação em que preenchemos espaços vazios da nossa memória afectiva. Quando isso acontece sentimos uma mistura de emoções, umas que nos vêm das recordações desse episódio ou fase da vida em particular, outras que são de agora, do que estamos a viver, e outras ainda que atravessam longos periodos da nossa existência... todas essas emoções se cruzam de um modo simultaneamente intenso e difuso.
Agora sei a história desse disco. E daqui em diante, cada vez que me lembrar dele, será uma memória enriquecida... agora, quando pensar n' O DISCO AMARELO vou pensar no Paulo Caiado, nos Crespos e outras pessoas com quem me cruzei nessa altura. Vou pensar na Tália, no Anselmo, na Discosom, na loja de discos que ficava na cave do Drugstore ?? (onde depois foi o Menú)... ou seja, os locais onde comprei os discos da minha adolescência (muitos deles ainda comigo e a serem tocados de vez em quando)...
e vou-me lembrar da relação ambígua que tinha na altura com o disco-sound (durou ainda alguns anos)... era quase um conflito de interesses: como era possível eu gostar dos Sex Pistols, Ramones, Jimi Hendrix, Led Zeppelin? Devo, Wire,... e gostar daquela música (e o facto é que gostava)?. Foi preciso a maturidade para o conflito estético desaparecer e ser substituido pela síntese ( LCD SOUNDSYSTEM :-) é procurar no youtube)
A música tem a encorme capacidade de evocar emoções, sentimentos, memórias... de gerar afectivade, paixões, conforto e desconforto...
Sempre me intrigou a relação que se establece entre a nossa experiência e a "banda sonora" dessa experiência, ou melhor experiências. A cada fase da nossa vida associamos uma determinada banda sonora, composta de memórias da música que nos acompanhou nesses momentos, mas também da memória dos locais, das pessoas, dos objectos...
Há uns tempos escrevi um texto que fala de algumas destas coisas.
Está aqui o link, se alguêm quiser ler "A história da musica não vai nem a meio…" http://blog.joaopaulofeliciano.com/
Para terminar:
Onde é que está esse DISCO AMARELO? Essa cópia que tu compraste na Tália e vendeste ao "Johnny Crespo Wilson"? Estará algures concerteza.
(post de João Paulo Feliciano)
Pat and Mick - I Haven't Stopped Dancing Yet
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