sábado, 5 de junho de 2010

UM RELÓGIO




Medir o tempo é um exercício de exactidão aparentemente simples e óbvio.
O tempo suscita os mais diversos sentimentos, prolonga-os, acelera-os.
Quando se espera, o tempo é longo.
Quando se deseja, o tempo é curto.
Procura-se tempo para tudo, e perde-se tempo com tudo.
Fala-se de tempo, enquanto o tempo decorre.
Agarra-se o tempo, quando se sabe que não pára. Enquanto o tempo decorre pensa-se no tempo, e o momento presente era agora mensmo futuro, e é já passado! Enquanto procuramos preencher o tempo, este já nos preencheu...
Pensava tudo isto no tempo em que terminava a tarefa minuciosa de arranjar aquele relógio que lhe deixaram com um expresso pedido de urgência, por não ter tempo a perder. No final, confirmou peça a peça, ouviu no silêncio o seu trabalhar e, sorrindo de satisfação dirigiu-se de relógio na mão para aquela pessoa ansiosa.
Partiu o relógio violentamente no chão e, perante o olhar surpreso e indignado que o fitava... sorriu, dizendo:
- O tempo afinal, não se mede!

(post da Cláudia Tonelo - texto de 29 Maio 2003)



Paulo de Carvalho - Flor Sem Tempo (Festival RTP 1971)

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