quinta-feira, 17 de junho de 2010

UM CAMINHO



Era uma vez um miúdo cheio de afectos, de sentimentos, que a dada altura da sua vida deixou de perceber onde os podia encaixar e a viver situações que o fizeram acreditar que tinha de mudar isso dentro de si... Entretanto descobriu que havia umas cenas que lhe "adormeciam" essa sua parte a que já não sabia dar uso... Viveu então o período de crescimento a procurar desesperadamente mostrar o quanto era um durão e um sobrevivente, não precisando de nada do que implicasse outros, pois isso parecia-lhe ser uma demonstração de fraqueza... e metade da sua vida passou assim, evitando viver tudo o que lhe parecesse "perigoso", mas ao mesmo tempo fazendo outras "perigosidades"...
Um dia (e só ele sabe, ou não sabe, porquê) resolveu desafiar os seus medos e enfrentar-se a si e a tudo o que andara a procurar evitar... acreditando finalmente que não tinha nada de errado e "merecia" uma oportunidade de paz com a Vida, de poder ser a pessoa bonita que sempre fora, por trás daquela máscara de durão... que também podia ser amado e amar, fazer os outros felizes e deixar-se ser feliz junto dos outros... sentir que pertencia a algo, amigos, família, namorada... e que outros pertenciam à sua vida... deixar de ser um solitário a explodir de coisas boas para partilhar... Assim começou o seu caminho... Pelos olhos dos que o rodeavam, muito bem e sem razões para se queixar, com tudo o que se pode desejar, etc., etc.... Mas, começou também a descoberta de uma pessoa com quem vivera esses anos todos e que lhe era afinal quase totalmente desconhecida, já que lhe fugira sempre que pudera... ele próprio, com os seus sentimentos!
E descobriu então que a adrenalina pode estar simplesmente no dia-a-dia de se ir aprendendo a viver o melhor que somos capazes, em cada momento... e que só assim se faz caminho... como dizia o poeta "Caminhante não há caminho, o caminho faz-se caminhando"
Começou a observar em seu redor, a ouvir à sua volta, e a olhar-se e ouvir-se a si próprio, e descobriu afinal que isto de vivermos é um caso complicado... mas também muito gostoso!
Percebeu que havia muitas formas de se fazer esse caminho... que cada um fala de uma maneira (e, às vezes, até vive de outra completamente diferente!) e, que à sua volta, enquanto ele estivera a representar o papel de durão outros viveram outras coisas... e que ele não tinha essas vivências para partilhar... como se tivesse um buraco no seu percurso...
Então começou a sentir outros sentimentos, uma angústia de como resolver dentro de si aquele buraco... Se aceitando-se com o seu caminho (se calhar, mesmo perdoando-se pelas escolhas que tinha feito!) e viver a partir daqui em paz consigo...
Se procurar viver o que lhe tinha faltado, embora não consiga descobrir o botão da vida que faz imagem acelerada, para não perder muito tempo.
Descobriu então que isto de termos a responsabilidade da nossa vida é uma tarefa difícil porque depois não podemos responsabilizar os outros pelos momentos menos bons (mais difícil do que decidir se fazemos um piercing!)... Mas que também tem a vantagem de que se a decisão nos faz sentir bem esse sentimento é maior ainda por nos sentirmos responsáveis por ele... e que se nos fizer sentir menos bem podemos sempre vir a aprender para outras ocasiões estarmos mais atentos a nós próprios...
Qual é o fim da história, cada um que imagine o seu... quanto a mim mantenho a certeza que tenho, desde o dia em que o conheci, de que uma pessoa bonita assim é difícil de encontrar, por isso, sejam quais forem os caminhos que vá caminhando irá sempre, em algum momento, cruzar-se com o meu para continuar a ter o privilégio de ver os seus olhos a sorrirem-me...

(post da Cláudia Tonelo, escrito em 19 Fevereiro 2005 02.30h)



Resistência ao Vivo - Nasce Selvagem

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