sábado, 12 de março de 2011

FIM DE TEMPORADA




E pronto! Algum dia tinha que chegar ao fim.

Ao longo de cerca de 70 crónicas recordei pessoas, locais e eventos que fizeram parte da minha vida e da vida da cidade.

Evoquei a memória de amigos queridos e de personalidades marcantes. E homenageei em vida amigos e pessoas que se destacam na nossa sociedade civil.

Não deixei para depois, para um dia de velório, citando Fernando Pessoa, o recordar as situações que tive com os meus amigos e o dizer o quanto gosto deles e a falta que um dia me farão.

De O JARDIM ESCOLA de 1967 a O FIM DA ADOLESCÊNCIA de 1986, decorreram quase 20 anos da minha infância e da minha adolescência que foi percorrida na companhia de amigos queridos e foi vivida com intensidade através dos eventos que aqui relatei.

Se eu vivi mais situações estrombólicas que os outros? Se eu presenciei eventos mais caricatos que os outros? Se eu tenho uma maior relação afectiva com os amigos que os outros?

Certamente que não. Apenas tenha talvez uma maior facilidade de expressão escrita e uma forma de estar mais extrovertida que me permite transcrever tantos factos da minha vida sem reservas.

Estou certo que todos os meus amigos nutrem por mim a mesma afeição, com a mesma intensidade! Estão é a guardar-se para o meu velório! Lol!

Afinal de agora em diante sempre que eu quiser recordar algo divertido que se passou com alguém sempre me irão dizer:

- Já sei! Já contaste isso numa crónica, lembras-te!?

É por isso que não posso contar tudo! Tenho que guardar algo para os serões de amigos. Talvez aquelas situações mais picantes, aquelas que por decoro e por respeito pela privacidade alheia não contei aqui! :)

Espero sinceramente que se tenham divertido tanto a lê-las como eu a escrevê-las e que sobretudo tenham gostado de relembrar tantas pessoas e factos que poderiam estar esquecidos.

Para os que não são da minha geração ou não frequentaram as Caldas nessas décadas aqui fica também um testemunho de uma época.

Mas eu não posso terminar sem enfatizar o facto de que o que me levou a escrever estas crónicas foi o poder com elas trazer os amigos a este espaço (do Facebook) e poder estreitar a distância física e temporal entre todos nós. Situação que teve o seu culminar na Festa que realizámos em 4 de Setembro passado e que porventura possamos repetir este ano, se assim o quiserem!

Este espaço continuará aberto às recordações de todos e continuará como veículo divulgador de acções sociais e culturais da nossa terra. Disponham dele!

Tal como no final da primeira temporada deixo aqui uma mensagem que me é cara:

Para os meus filhos
Para saberem como foi
Para saberem como fui


Até sempre!


Paulo Caiado


Nota: Isto não é necessariamente o fim. O ''Eu'' do titulo do blog não tem de ser necessariamente eu. Já no passado outros amigos recordaram, eles também, momentos da sua juventude. Este espaço continua aberto a todas essas memórias. Quem sabe se não se dará inicio a um terceira temporada de crónicas de que desfrutarei não na condição de narrador mas de leitor atento e entusiasmado? Os posts colocados no espaço do Facebook serão transferidos para aqui e se alguma recordação for contada no FB encontrará aqui o seu merecido lugar para que o ''Eu'' não seja eu mas todos nós.

domingo, 6 de março de 2011

UM GALÃ NA CASA DE BANHO




Imaginem que em vez de cinquenta e tal canais de televisão, só tinham à vossa disposição duas opções, um canal generalista e outro dedicado sobretudo a temas de índole cultural. Imaginem uma televisão a transmitir exclusivamente a preto e branco!

Imaginem um mundo sem séries a todos os dez minutos, talk-shows e concursos, noticiários de uma hora e meia.

Imaginem-se em serões sem canais por cabo, filmes comprados ou de aluguer, sem jogos de consolas nem internet, nem tão pouco computadores pessoais!

Esta era a realidade de Portugal nos finais dos anos 70! Os serões eram passados geralmente em família… e diante da televisão. As telenovelas brasileiras conheciam, por força da exclusividade da RTP e da falta de alternativas para quem queria ficar em casa, audiências na ordem dos 90%! Quando foram transmitidos os últimos episódios de ‘’Gabriela – Cravo e Canela’’ em Novembro de 1977, a Assembleia da República encerrou mais cedo os trabalhos e todo o país literalmente parou!

Imaginem a popularidade que desfrutavam entre nós as estrelas da TV Globo que diariamente nos visitavam em prime time!

Agora imaginem que um dia vêem a sair da vossa própria casa de banho um dos principais actores brasileiros de telenovela que daí a umas poucas horas apareceria de novo no pequeno ecrã diante de toda a família!

Pois foi isto mesmo que nos aconteceu num domingo de Carnaval no final dos anos 70 ou no inicio dos anos 80!

Carlos Eduardo Dolabella, estrela de ‘’Saramandaia’’ (exibida em Portugal em 1978), ‘’O Astro’’ (1978/79),‘’Pai Heroi’’ (1980), ‘’Água Viva’’ (1981)e ‘’O Bem Amado’’ (1981-84) e a sua mulher Pepita Rodriguez, protagonista de ‘’Dancin’ Days’’ (1979/80), constituíam um dos casais mais famosos da televisão brasileira e por via da retransmissão das telenovelas em Portugal também bastante populares no nosso país.


Nesse ano, que não consigo precisar, a organização do Carnaval das Caldas decide convidar como estrelas para figurarem como reis do carnaval e desfilarem no então muito popular corso caldense o referido casal de actores brasileiros.

O Carnaval das Caldas era um dos mais afamados e concorridos carnavais do país com uma enorme adesão popular quer aos inúmeros bailes que se realizavam nas diversas colectividades, quer nas manifestações espontâneas de rua, particularmente na Rua das Montras (lembram-se dos chapéus de feltro que voavam da cabeça dos seus utilizadores presos por uma mola por sua vez presa a um fio de nylon que passava por cima de um dos fios de electricidade?) e na Praça (ai de quem tivesse a infeliz ideia de a atravessar de carro!) e enfim por todas as ruas da cidade quando bandos de mascarados as percorriam em busca dos incautos que com eles se cruzavam ou visitando lugares públicos e ‘’assaltando’’ as casas dos amigos ainda antes de rumarem aos bailes mais frequentados!


Era o tempo de um corso fantástico, organizado por um grupo de entusiastas, onde sobressaía a figura omnipresente de Alberto Saramago que com a colectividade Corsolar (Júlio Amaro, Salvador Mil-Homens, Valdemar Cruz, Cristiano Cardote Duarte, José Manuel Barrosa dos Reis, José Domingos, entre outros) organizava este corso, e onde concorriam os carros alegóricos das colectividades, sobretudo dos Pimpões e ainda de algumas empresas da região. Ainda participei em alguns corsos em carros pertencentes a diferentes empresas.
Era também o tempo da folia nas ruas com centenas e centenas de metros de fitas de serpentinas, milhares de confeites pelo ar e pelo chão, bisnagas de água em punho e martelinho na mão!


Foi o tempo dos Gigantones e dos cabeçudos, das matrafonas e dos palhaços. Foi o tempo dos Zés Pereiras, das bombas e estalinhos, das rabias e das bombas de mau cheiro e estalinhos, das tiras de fulminantes de raspar na parede, dos pós de comichão e pós de espirrar que se compravam na Tália e foi também o tempo das estrelas internacionais demandarem ao nosso Carnaval.

Nesse ano Carlos Eduardo Dolabella e Pepita Rodriguez foram então os Reis do Carnaval das Caldas e por alguma razão, julgo que um grau de parentesco distante ou amigos em comum, utilizaram a casa dos meus vizinhos, os Amaro, para vestirem os trajes de Carnaval, ou melhor dizendo o manto e os adereços que utilizaram sobre as suas roupas. Os Amaro viviam e ainda vivem no mesmo andar dos meus pais, no Burlão, uns no segundo direito e os outros no segundo esquerdo.

A dada altura do desfile, já depois de terem feito por duas ou três vezes a volta obrigatória à avenida e ao Burlão, o Carlos Eduardo Dolabella, encharcado pelos balões de água que lhe iam atirando, coberto de confeites que se lhe colavam à pele e ao cabelo e completamente transpirado pelo calor provocado pelo manto real, decide ir a casa tomar um duche rápido e trocar de camisa.

Sabia qual o prédio e qual o andar e saltou do carro em andamento para fazer rapidamente o serviço!

Entrou disparado no prédio, tomou o elevador e ao sair deste enfiou pela porta que viu aberta diante de si. Como de costume, durante os corsos de Domingo e Terça-Feira Gorda a porta de minha casa permanecia aberta pois eu, as minhas irmãs e respectivos amigos não parávamos num entra e sai frenético para carregar bisnagas ou outros apetrechos. Como os meus pais e outras visitas permaneciam nas varandas a ver o corso não conseguiam ouvir a campainha da porta e a melhor solução era deixá-la aberta durante toda a tarde.

O pobre do Dolabella, provavelmente igualmente apertado nas suas necessidades fisiológicas, entra em casa e segue disparado até à casa de banho que fica mesmo no fundo do corredor. Nem se apercebeu que estava na casa errada!

Sem que ninguém se apercebesse tomou calmamente o seu duche, serviu-se das toalhas de reserva e dos produtos de higiene, voltou a vestir-se e sai da casa de banho com intenção de procurar uma camisa na mala que deixou no quarto (no andar do lado!). E assim temos um conhecido actor de telenovela a sair pela porta da casa de banho, em tronco nú, a esfregar o cabelo com uma toalha turca e a deparar-se com um grupo de nós que nem de propósito entramos em casa nessa precisa altura!


- Ôi! – Cumprimentou ele com a maior das calmas e com um enorme sorriso. – Tudo bom?

Fitamo-lo estarrecidos! Nem sabíamos se havíamos de rir tal era a nossa surpresa.

Como era óbvio ele nem se apercebera da situação e tomara-nos como amigos ou parentes dos donos da casa.

Finalmente, comecei a rir e perguntei-lhe como tinha ido ali parar! As minhas amigas olhavam-no com admiração e interesse. Nesse momento estavam mais interessadas em ser-lhe apresentadas!

Ele olhou-me com surpresa.

-Ué! - Abriu os braços com espanto e olhou a casa como se a visse pela primeira vez. – Aqui não é a casa de Seu Amaro?

Rimo-nos todos à gargalhada e expliquei-lhe que a casa do Sr. Amaro era ao lado. Por esta altura já toda a família e amigos tinham saído da varanda e vindo para o corredor.

Todos nos ríamos da situação mas o Carlos Eduardo levou as coisas na desportiva. Com o calor dos trópicos deveria estar mais do que habituado em andar em tronco nu diante de estranhos!

Expliquei-lhe a situação e conduzi-o a casa dos vizinhos.

No final do dia vieram os dois, O Carlos Eduardo e a Pepita pedir mais uma vez desculpa pelo acontecido e agradecer a nossa amabilidade. Eram extremamente simpáticos e sorridentes. Ainda voltariam mais tarde a Caldas para uma nova visita mas não os encontrei nessa altura.

Mas o episódio ficou-me sempre na memória bem como o seu encanto pessoal!



Carlos Eduardo Dolabella viria ainda a entrar em mais 16 novelas e mini-séries. Faleceu em Maio de 2003 por problemas cardíacos, tinha 65 anos.



Pepita Rodriguez só participaria em mais três novelas sendo a última ‘’Cristal’’ da SBT em 2006.




Texto Complementar à crónica ''Um Galã na Casa de Banho''



MORRE O ACTOR CARLOS EDUARDO DOLABELLA
Segunda, 26 de maio de 2003, 20h29

Dolabella: 35 anos de carreira
Foto: JB Online

Carlos Eduardo Dolabella (Carlos Eduardo Bouças Dolabella) morreu na noite desta segunda-feira no Rio de Janeiro, aos 65 anos. O ator será cremado nesta quarta-feira no Cemitério do Caju, pela manhã. O velório acontecerá no Cemitério São João Batista, na capela nº 1.

Dolabella sofria de diabetes e estava internado no Hospital Samaritano, na zona sul do Rio de Janeiro, havia 102 dias - desde 12 de fevereiro deste ano. O ator estava respirando com ajuda de aparelhos e estava em coma induzido.

Dolabella teve falência múltipla de órgãos e morreu às 19h20. Seu problema de saúde começou com uma insuficiência no miocárdio. Em 2002, ele foi submetido a duas cirurgias.

O último trabalho do ator carioca na TV Globo foi a minissérie A Muralha, em 2000. Um dos primeiros papéis de Dolabella na Globo foi na novela Selva de Pedra, de Janete Clair, no início da década de 70, sendo um dos maiores galãs da TV nas décadas de 70 e 80. Ele tinha 35 anos de carreira: na televisão fez 29 novelas, quatro minisséries e 13 Casos Especiais. Fora da telinha, Dolabella participou de 16 peças e 15 longa-metragens.

Ele também atuou em O Bem Amado, Força de um Desejo, Labirinto, Por amor, O campeão, Engraçadinha... seus amores, seus pecados, O Provedor, A Próxima Vítima, Irmãos Coragem, entre muitas outras.

O ator Dado Dolabella, filho de Carlos Eduardo com a atriz Pepita Rodrigues - que agora está gravando um CD, dedicou uma música de seu disco para o pai. A faixa chama-se Intuição e tem a participação de Tarcísio Meira, lendo um texto de Mário Lago. Além de Dado, Dolabella deixa mais um filho do casamento com Pepita.


Carlos Eduardo Dolabella nasceu no Rio de Janeiro e teve quatro filhos - Adriana e Fábio, de seu primeiro casamento e Fernando e o ator Dado Dolabella com a também atriz Pepita Rodrigues. Em 35 anos de carreira, atuou em 29 novelas, 4 minisséries, 13 casos especiais, 16 peças de teatro e 15 filmes. Dolabella se formou em relações públicas na Suíça na década de 1960. Falava cinco idiomas. Antes de se dedicar à carreira de ator, chegou a trabalhar em empresas do avô. Gostava muito de música e chegou a pensar em se tornar cantor.

A carreira de Dolabella decolou em 1963, quando ele recebeu o prêmio de melhor ator no Festival de Teatro Amador do Estado de Guanabara. A primeira novela veio no ano seguinte: "Coração", na TV Rio, com Sérgio Britto e Isabel Ribeiro. Entre seus personagens prediletos em novelas da Rede Globo, estavam o delegado Falcão, de "Irmãos Coragem" (primeira versão) e Neco Pedreira, de "O Bem-Amado" (1973) - diretor do jornal A Trombeta, ele voltaria a incomodar o prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, vivido por Paulo Gracindo, quando o enredo de Dias Gomes virou seriado, na década de 80.

Gostava também de lembrar do Marcito, de "O Espigão" (1976) e do açougueiro Natalício, de "O Astro" (1978). Em 1986, protagonizou com a ex-mulher Pepita o programa de jogos e sorteios Alô Pepa, Alô Dola!!!!

Com Pepita, fez ainda as peças: "Viva Sem Medo Suas Fantasias Sexuais" (1985) e "Extremos" (1986). Em 1997, trabalhou na novela "Por Amor", onde fez o papel de Arnaldo Mota, que, na trama, era marido da atriz Susana Vieira. Fez ainda a minissérie "Labirinto" (1998) e a novela "Força de um Desejo" (1999), ambas de Gilberto Braga.

Seu último trabalho na TV foi na novela da TV Globo "Porto dos Milagres" (2001). Em 2000, participou do seriado "A Muralha".

Saudade é um sentimento que dói e fere!!!! Como diria Renato Russo: "Até a próxima vez..."


PEPITA RODRIGUEZ

A atriz Josefa Suárez Rodríguez, conhecida como Pepita Rodriguez, nasceu em Málaga, Espanha, em 11 de setembro de 1951.

Em 1976, apresentou "Moacyr Tv", um programa de auditório na TV Globo ao lado de Moacyr Franco.

A estréia de Pepita Rodriguez em novelas deu-se em 1969, na produção "Um Gosto Amargo de Festa", de Cláudio Cavalcanti, para a TV Tupi.

Trabalhou em seguida em "João Juca Jr.", "Editora Mayo, Bom Dia", "Na Idade do Lobo", "A Volta de Beto Rockfeller", "Divinas & Maravilhosas", "Anjo Mau", "Espelho Mágico", "Dancin' Days" e "O Amor É Nosso".

Pepita Rodriguez ficou 23 anos afastada das novelas até que integrou, em 2005, o elenco de "A Lua me Disse", de Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa.

A ausência do vídeo fez Pepita descobrir outros caminhos. Ela fez teatro e lançou dois livros: "Tempo de Colher" e "Segundo Tempo", ambos sobre sua vida. Também começou a pintar e comercializar azeite, vinho e salmão.

Em 2006, Pepita Rodriguez assinou contrato com o SBT para atuar na novela "Cristal", ao lado do filho Dado.

No cinema trabalhou em:

1974 - Portugal... Minha Saudade
1973 - Uma Negra Chamada Tereza
1971 - Um Certo Capitão Rodrigo - Helga
1968 - Edu, Coração de Ouro
1968 - As Três Mulheres de Casanova
1967 - Rifa-se Uma Mulher – Marta

Pepita Rodriguez tem três filhos: Giba Di Pierro, do casamento com o jornalista Gilberto Di Pierro; e Dado e Fernando Dolabella, de seu casamento com o ator Carlos Eduardo Dolabella (1937-2003).

Em 2007, Pepita Rodriguez esteve no elenco do filme "O Dono do Mar", versão de Odorico Mendes para o romance de José Sarney.