segunda-feira, 31 de maio de 2010

PUBLICIDADE ANOS 70 (10)


























O DISCO AMARELO





Estávamos no final do Verão de 1979 quando num sábado de manhã, passava eu diante da Tália, ouvi um som fantástico que me fez entrar. Dirigi-me ao fundo da loja, à secção de discos e perguntei o que estava a tocar.
O empregado com um sorriso e um brilho nos olhos de quem reconhece um cúmplice, mostrou-me um disco como se fosse uma peça de colecção.
- É importado, só mandámos vir dois!
O grupo ‘’Gonzalez’’ não me dizia muito, mas a música era um verdadeiro hino ao disco-sound!
O meu interesse baixou um pouco perante a expectativa do preço que me iriam apresentar.
O empregado retirou o disco da capa e os meus olhos abriram-se de admiração e entusiasmo.
-É um maxi-single. – informou o empregado.
O primeiro que eu vira na vida. Ainda por cima trazia outra novidade, o vinil era amarelo, o primeiro vinil colorido que eu vira em toda a minha vida!
Custava 18 escudos, mais do dobro de um single normal mas a expectativa de ter aquela raridade nas Caldas fez-me decidir a ir casa tentar reunir a quantia necessária.
Nessa a tarde apresentei-me triunfante e orgulhoso no Sotão trazendo o disco como um galardão. Foi de imediato um enorme sucesso e o disco passou vezes sem conta nessa tarde.
No dia seguinte repetiu-se o sucesso com os que não tinham estado na véspera e no final da tarde. O João Crespo Wilson veio então pedir-me se me podia comprar o disco pois ia nessa noite para Leiria e não teria possibilidade de ir comprar à Tália o outro exemplar. Receava ele que em Leiria não conseguisse encontrar o disco uma vez que era importado.
Apesar da minha relutância inicial eu acedi e vendi-lhe o disco, na esperança de no dia seguinte poder adquirir o outro exemplar na Tália.
O pior foi quando cheguei á loja e me disseram que o outro disco já tinha sido vendido e como eram importados não havia muita possibilidade de o ter de novo. Pedi-lhes quase encarecidamente que tentassem encomendar um novo exemplar.
Durante semanas, meses, perguntei pelo disco. E nada!
Estive anos sem voltar a ouvir a música mas apesar de tudo dava por mim de quando em quando a trautear os seus acordes como quem tem um flashback de uma antiga namorada de infância de quem já temos dificuldades em recordar a cara.
Com o aparecimento da VH1 surgiu a oportunidade de voltar a ouvir a música e um dia que sintonizei esta estação lá estava.
Ao fim de tantos anos voltava a ouvir os Gonzalez e ‘’Haven’t Stop Dancing Yet’’!
O Disco Sound há muito que morrera e o meu gosto musical foi-se alterando ao longo dos anos, mas a alegria de viver reflectida pela música e a marca dos tempos em que nos ríamos e brincávamos enquanto dançávamos num circulo de vinte, trinta amigos, isso perdurou em mim até hoje.

Ao Johnny Crespo Wilson que hoje faz 47 Primaveras
As amizades são eternas!



Os Gonzalez foi um grupo britânico de R&B e Funk. Ficaram mais conhecidos como banda de apoio de grandes nomes do R&B, Funk e da música Soul. O seu primeiro álbum com o título ‘’Gonzalez’’ foi lançado em 1974. Gravaram um total de seis álbuns antes de se retirarem em 1986, e são sobretudo conhecidos para o seu grande êxito ‘’Haven’t Stopped Dancing Yet’’
A banda original foi formada por Godfrey McLean e Bobby Tench em 1970 e incluiu outros membros dos Gass (uma banda rock e de rock progressivo formada em 1965) com a formação inicial constituída por Tench como vocalista e guitarrista, Godfrey McLean na bateria , baixista Delisle Harper e percussionista Lennox Langton. Mais tarde Tench tornou-se membro do Jeff Beck Group e os Gonzalez criaram uma nova formação, com os saxofonistas Mick Eva, Chris Mercer, Geoffrey 'Bud' Beadle, e ainda Roy Davies nas teclas e o guitarrista Gordon Hunte. Mais tarde George Chandler, Glen LeFleur e Delisle Harper incorporaram a banda, mantendo-se em simultâneo no grupo funk The Olympic Runners.
O seu primeiro álbum Gonzalez (1974) apresentou um som Funk muito pesado. Our Only Weapon Is Our Music (1975) foi lançado sob a etiqueta Capitol, uma empresa-irmã da EMI.
Por volta de 1977 eles tinham encontrado um público entusiasta entre os fans da música Disco, com a canção escrita por Gloria Jones (a mesma de Tainted Love interpretada mais tarde por Marc Almond dos Soft Cell) ‘Haven’t Stopped Dancing Yet’’' que chegou ao nr. 26 no Billboard Hot 100. Um remix da canção conseguiu o 7º lugar no US Club Play Chart e o 15º no UK Singles Chart.
Os terceiros e quartos álbuns da banda, Shipwrecked e Move It To The Music foram produzidos igualmente por Gloria Jones. Eve e Hunte deixaram entretanto a banda antes do single ‘Ain’t No Way To Treat a Lady’’ ser lançado como uma tentativa de repetir o êxito de ‘Haven’t Stopped Dancing Yet’’
Em 1980, os singles seguintes e o seu quinto álbum Watch Your Step, não tiveram sucesso e o grupo perdeu o seu status na editora discográfica. Os Gonzalez então mudaram-se para a editora Pye Records e concentraram-se nas actuações ao vivo, normalmente como banda de apoio de estrelas da R&B, Funk e da música Soul, como Freddie King.
Roy Davies morreu em 1986 e então os Gonzalez dispersaram.


Gonzalez - Haven't Stopped Dancing Yet (1979 - original video)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

EM BUSCA DA ESPIRITUALIDADE



Eu sabia que deveria haver alguma razão para que nos tempos da primária eu e alguns colegas do Colégio Ramalho Ortigão nos escapássemos para a sala onde se faziam as hóstias e nos atafulhássemos com as aparas e com hóstias não consagradas.
Nos anos setenta a busca pela espiritualidade deu-me forte.
Não que fosse adepto das leituras dos guias do Lobsang Rampa que enchiam os escaparates da montra da Jornália, nem que fosse particularmente influenciado pelos Meninos de Deus que pululavam na Rua das Montras, a distribuir bandas desenhadas que falavam do Pai David e tratando-me por Bhaiya (irmão) (e eu a olhar para as louras alemãs e logo a pensar ‘’Irmão, o caraças que tu com um banhinho decente em cima...!’’)
- Ó minha Rani até te levava para um Parikrama! (um género de passeio p’ró divino!)
E foi assim que segundo os historiadores começou oficialmente o Flirty Fishing*!
(vão à wikipédia que eu agora não tenho tempo para vos explicar, mas olhem que é muito interessante!)



À falta de um Samadhi ou uma revelação divina (ou um placar em néon!) que me levasse a encontrar um caminho. Decidi saciar a minha forte necessidade de encontrar um caminho, indo a todas as missas quanto possíveis. Estes factos já os relatei anteriormente mas agora aqui vão devidamente integrados no seu contexo. Em pouco tempo fiquei não só a saber todas as rezas do Pároco como as bisbilhotices mais interessantes cá do burgo!
- Ai mana, sabe que anda um professor lá pelo liceu, um tal de ‘’Borboleta’’, a distribuir preservativos nas suas aulas e levou uma boneca daquelas onde se aprende a fazer respiração boca-a-boca mas parece que a utilizou para ensinar a beijar?!’’
E a mana a persignar-se!
(se querem saber a diferença entre benzer-se e persignar-se aconselho-vos o curso para acólitos aos sábados de manhã na Igreja Paroquial)
- Cruz Credo! E o homem não foi expulso!!?? Ao que isto chegou!
- ‘Tava-se mesmo a ver! Um liceu no meio do parque, o que é que podiam esperar? Aquilo é um antro! Um antro!!!
E as ‘’noticias’’ sucediam-se metodicamente ao ritmo de cada missa dando-me uma excelente perspectiva de um desconhecido quotidiano caldense.
Passado um tempo e vendo-me o Padre Guerra em tamanha devoção, ocupando sistematicamente a primeira fila da missa, decidiu convidar-me para ajudar à missa como acólito. Desconhecia que para ser acólito era necessário tirar um curso e torci logo o nariz à ideia de ter mais uma cena para estudar mas era tarde demais e já não podia voltar atrás. Frequentei o curso e tirei o diploma com a brilhante nota de 16 valores só ultrapassado pelo devoto Zé Ricardo que já nessa altura se revelava um estudioso à altura!
(Recordo –me ainda da primeira pergunta:
- Olha lá, tu rezas antes de comeres? – picou-me o acólito-mor.
- Não, q’a minha mãe é uma boa cozinheira! – atirei-lhe eu.)

As coisas até que começaram bem. Lá ia fazendo a minhas quatro missitas por dia mais uns baptizadozitos e casamentos e os domingos iam passando.
Numa manhã as coisas começaram a descarrilar! Não sei porque carga d’água mas em vez de encher o jarrito do galheteiro com o vinho de mesa, troquei-o e enchi-o de vinagre de vinho tinto. Podem imaginar o tamanho da careta que o Padre Guerra fez em plena missa do meio-dia!
Mas o homem era um santo e escapei com uma pequena advertência. Mas a coisa pôs-me nervoso!
No domingo seguinte, de novo na missa do meio-dia, venho com o galheteiro todo lampeiro para o altar, quando piso a minha própria túnica, dou um enorme tropeção e o galheteiro voou pelos ares para aterrar em completo ‘’estol’’ na mesa do altar!
Minha Santa Maria da Feira!
Fez-se um silêncio sepulcral na igreja, eu devo ter corado mais do que a pobre da Teresa Miguel das Doce quando lhe caiu o cai-cai de pele de leopardo no palco, em pleno Burlão e no meio do ‘’Uma da manhã, ei! Bem bom, duas da manhã, ei…’’ .
(Era por essa e por outras que chamávamos àquela peça de vestuário os ‘’tomara que caia!’’)
Enfim uma experiência única mas que teria sido mais esclarecedora se a protagonista fosse a Lena Coelho!
Por fim, o Padre Guerra com ar zangado e sobrancelhas franzidas, lá prosseguiu com a missa, enquanto eu me escapulia para o canto que dava para a porta da sacristia.
E foi assim o fim da minha carreira de acólito na igreja das Caldas. Mais um grande talento desperdiçado por falta de condições de trabalho!

Mas eu não me dei por vencido e alguns meses depois, lá estava eu de comboio a caminho de Coimbra com mais um grupo de jovens bem-intencionados e prontos a mergulhar num novo momento de grande espiritualidade.
Juntámo-nos os manos lá de casa, mais os primos de Setúbal, e mais uns tantos amigos das Caldas (que eu não nomeio aqui porque são pais e mães de familia e não os quero embaraçar!), um grupo do Estoril e outro da Figueira todos rumo a Coimbra, Seminário Velho, para fazer um Retiro de Jovens. (Tipo Verão Azul mas sem as bicicletas, nem a praia, nem a banda sonora, nem a professora, nem a traineira em cima da falésia, nem… enfim, perceberam a ideia!).
O comboio levou-nos até à bifurcação de Lares (ou coisa que o valha!) e depois tomámos outro comboio rumo a Coimbra B. À nossa espera um grupo de amigos habituais das férias nas Caldas, mas que viviam em Coimbra, e os dois casais organizadores do Retiro.
Primeiro dia, sessão de trabalho, jantar frugal com os frades franciscanos e recolha às celas individuais para meditação.

(momento de pausa para meditação)




Estava-se mesmo a ver!
Não sei quem foi o culpado (eu não fui!!!) mas um dos rapazes saiu da sua cela e pé ante pé foi batendo às portas de cada uma das celas dos rapazes e desafiou-nos para irmos fumar um cigarrito ao claustro! Depois até algumas das raparigas se juntaram a nós e acabámos a escapar pelas traseiras para ir ao Raul das Tostas comer tostas de galinha e penalties de vinho verde à pressão para compensar o jantar dos frades.
Palavra puxa palavra, mãozinha puxa mãozinha, uma coisa leva a outra, a Ladeira do Seminário leva ao rio e a ponte da Portagem levou-nos ao Scotch. Finalmente entrámos em êxtase! O Scotch era a melhor discoteca de Coimbra e fez mais pelas nossas relações de grupo que todas aquelas horas da tarde!
Eram altas horas quando regressámos e subimos devagarinho, pé ante pé, as escadarias que nos levariam de volta às celas. Chegámos a tirar os sapatos para que os tacões não ressoassem na pedra de granito.
Nisto, quando estávamos a chegar a um dos patamares, salta-nos vindo do nada um frade com o hábito franciscano.
Ai Minha Nossa Senhora, apanhámos o maior cagaço das nossas vidas!
- Ai Pecadores! Estais perdidos! – gritou ele visivelmente furioso. (juro que é verdade!) – Como ousais?
Agarra-nos pelos pulsos e toca de levar toda a gente para a sala do refeitório. Mandou-nos esperar quietinhos que iria chamar o Frade Superior e os adultos laicos responsáveis pela organização do retiro. Começamos a rezar a todos os santinhos nossos conhecidos (Santo António dos Cavaleiros, São Bartolomeu de Messines, São João do Estoril, …).
Esperámos uma hora até que os civis chegassem e formou-se um verdadeiro conclave, mais, um verdadeiro tribunal da Inquisição. Aonde foram? O que fizeram? Não têm vergonha? Ao menos estão arrependidos?
O Frade Superior era um velho bondoso e compreensivo e estava pronto a relevar o incidente mas o raio de um outro frade mais jovem e mais ortodoxo fez de Torquemada e estava decidido a convencê-lo a expulsar-nos e terminar o retiro de imediato.
Valeu-nos a compreensão e solidariedade do casal organizador para convencer o Frade Superior a dar-nos mais uma oportunidade para que o retiro não terminasse por ali.
E assim, após uma noite mal dormida, na manhã seguinte reunimo-nos ao pequeno-almoço no refeitório do Convento e lá iniciámos mais uma manhã de discussão, oração, trabalhos de grupo e meditação. Após o almoço era tempo de recolhermos de novo às nossas celas para meditar sobre os nossos actos e o caminho que queríamos levar para a vida!

(nova pausa para meditação)



Eu juro pela santinha que não fui eu!
Eu até estava a dormitar na camita para recuperar a noite mal dormida e curar-me da ressaca das Cuba Libres e dos penalties emborcados!
Nisto ouço bater à porta e eram os do Estoril encabeçados pelo Vasco Sampaio que com ar de gozo cheio de cumplicidade entram-me pela cela dentro.
- ‘Bora lá bater uma poquerada! – Disse um deles. – Temos cartas e sacámos umas pedritas dos vasos.
Ainda nem eu tivera tempo para me recompor e já as cartas estavam sobre a cama e distribuídas entre todos.
Não demorou muito para que perante as nossas gargalhadas e exclamações os outros se juntassem e o caldo ficou outra vez entornado!
Lá apareceu de novo o Torquemada e desta vez nem São João da Pesqueira nos safou!
Acabou-se logo o retiro. Fomos todos despachados para casa no primeiro comboio a partir de Coimbra!


Passaram-se uns meses e na praia da Foz julguei ter finalmente encontrado a espiritualidade nas mãos de uma moçoila dinamarquesa que se interessou muito pelo meu Yang e adorava estudar os meus chakras, particularmente o manipura! O problema é que há boa maneira nórdica trazia com ela dois espanadores por baixo dos braços e como fazia campismo a higiene não devia ser muita. Um dia fomos ao Green Hill e quando começámos a dançar slows escapou-me:
- Du tust parfüm Schneewittchen. Nicht du? (Tu usas perfume Branca de Neve, não usas?)
- Wie Sie entdeckt? (Como soubeste?)
- Sie haben einen kleinen Zwerg unter den Arm getötet! (Deves ter um anãozinho morto por baixo do braço!)
Assim, foi sol de pouca dura e estava a começar a desesperar com o meu Karma!


Chegámos a Setembro e a família partiu para o Algarve.
Ao fim do primeiro dia conhecemos um casal e os seus filhos. E adivinhem? O pai de família era médium e fazia sessões espíritas!
- Começamos bem! - Pensei eu para os meus botões!
O fulano levava a cena bem a sério. Fazia espiritismo nas horas vagas mas com tanto entusiasmo e devoção que à partida para as suas férias anuais, aconchegava toda a família mais a bagagem no seu pequeno Mini e atava a sua mesa de pé de galo ao tejadilho da bomba.
Dá para imaginar a cena do Mini pelo Alentejo abaixo com quatro marmanjos e uma mesa atada ao tejadilho de pernas para cima!
Logo nessa tarde fomos informados que iria ser realizada uma sessão espírita em casa dos nossos novos amigos mas que estes estavam mais interessados em ir para a discoteca e eram os seus pais que se juntariam com mais dois casais de meia-idade.
O meu primo Bernardo, sempre pronto para a galhofa perguntou logo se poderíamos participar pois éramos muito crentes!
O casal olhou-nos com desconfiança mas perante a seriedade simulada do Bernardo lá nos deram autorização para irmos lá a casa.
Como imaginávamos, os nossos amigos tinham-se baldado para a discoteca e fomos recebidos pelos seis outros participantes na sessão.



Sentaram-nos à volta da famosa mesa. Tinham posto a sala às escuras e apenas uma vela acesa no centro da mesa iluminava a divisão. O médium fecha os olhos e começa a entrar em transe pedindo-nos que fechássemos igualmente os olhos e que déssemos as mãos. Foi o princípio do fim!
Comecei a espreitar por um olho mal fechado e vi o Bernardo à minha frente também a olhar por uma nesga de um olho e de mãos dadas com um dos casais. Os dois começámos a tentar conter um quase incontrolável riso.
O espírita pediu-nos para fazer força, muita força de mente e eu fiz tanta força como um alferes-miliciano com prisão de ventre!
O médium abriu os olhos e reprovou:
- Estão na sala alguns descrentes! Enquanto aqui estiverem o espírito não virá!
-Ah pois! – Contestou o meu primo – Se ele não vem, então é que nunca acreditaremos mesmo!
E desatámo-nos os dois a rir a bandeiras despregadas.
Como podem imaginar fomos convidados ‘’cordialmente’’ a sair da casa e perdi a minha chance de encontrar um sinal.

Não desisti e no regresso às aulas ingressei na Católica. Pensei que aí eu poderia estar mais perto de encontrar a tão ansiada espiritualidade.
As coisas pareciam bem encaminhadas quando na praxe é eleita Miss Católica uma bela ruiva de olhos verdes que estava na minha turma.



Perante aquela nomeação e a beleza da personagem julguei eu que ela teria certamente encarnado algo divino (nesse tempo silicone, o botox e a lipoaspiração ainda eram coisas do futuro!)!
Fiz-lhe os rituais de idolatração, ofereci-lhe incenso, mirra e ouro (tá bem, eram Brise e Ferrero Rocher mas tiveram o mesmo efeito!), dediquei-lhe alguns mantras e começamos a namorar. Durante um ano lectivo procurei arduamente saciar a minha busca pela espiritualidade mas infelizmente os únicos sinais que recebi foram o de beco sem saída e o de inversão de marcha!
Se havia umas luzes na Católica elas estavam meio fundidas e fui encontrar maior iluminação no Farol em Cascais e no Archote ao Arco do Cego!
Mas persistência é o meu mote!
Uma amiga muito dada a estas coisas do Yin e Yang disse-me para eu parar de procurar a espiritualidade nas coisas externas mas olhasse para o meu interior, para o meu innermost being.
Ok. Mas como iria eu fazer isso? Com uma sonda? Um duplo J? Um laparoscópio?
- Meu São Brás de Alportel! A procura iria ser mais dolorosa do que eu previa!
Felizmente alguns acontecimentos na minha vida vieram em meu auxílio. No decorrer dos anos seguintes fui sujeito a uma série de cirurgias em diferentes partes do corpo e ao acordar de cada anestesia invariavelmente perguntava ao cirurgião se tinha encontrado algo estranho.
Nada! Nicles batatoide! Agora só me faltava mesmo verificar nos pés. E até podia ser que estivesse por aí. Que a minha espiritualidade se encontrasse nos meu pés. Estava certo que o mesmo acontecia com o Cristiano Ronaldo, como a espiritualidade do Jardel estava na cabeça, a do Roger Federer está nos braços e a do Zé Castelo-Branco está no…, enfim!
Desde então tenho procurado a espiritualidade em todo o lado, já fui ao Budha Bar, conheci os Santos & Pecadores, os Anjos (mas foi com as Tentações que me senti mais perto de encontrar o sentido da vida), fui à Catedral da Luz ver o Jesus e até fui à repartição do BES do Burlão! E até agora nada!
Minha Santa Kshanti!
Não desisto. Continuarei a procurar a minha espiritualidade. Um dia vou encontrá-la e convidá-la para tomar um copo.
Ainda nos vamos rir os dois!



Chris Rea - Puppet singing Tell Me There's A Heaven

OS MENINOS DE DEUS E O FLIRTY FISHING



Texto de apoio à crónica: Em Busca da Espiritualidade


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Os Meninos de Deus, depois conhecidos como Família do Amor, a Família, e agora a Família Internacional (FI), é um movimento religioso, amplamente referido como uma seita, que teve início em 1968 em Huntington Beach, California, Estados Unidos. Foi uma dissidência do Jesus Movement do final dos anos 1960, com muitos dos seus primeiros convertidos saídos do movimento hippie. Esteve entre os movimentos que inflamaram a controvérsia das seitas nos anos 1970 e 1980 nos EUA e na Europa e provocaram o primeiro movimento antiseita (FREECOG).



INTRODUÇÃO

A medida que o grupo cresceu e se expandiu ao redor do mundo, sua mensagem também se espalhou— salvação, apocalipticismo, "revolução" espiritual contra o mundo exterior que eles chamavam de "o Sistema"— e a polêmica resultante. Em 1974, implantou um método de evangelismo chamado Flirty Fishing: usar o sexo para demonstrar o amor de Deus e ganhar conversões. Flirty Fishing tem sido comparado à prostituição religiosa. A prática foi interrompida em 1987. Seu fundador e líder profético, David Berg, se comunicava com seus seguidores via Cartas de Mo—cartas de instrução e conselho sobre muitos tópicos espirituais e práticos—até sua morte no final de 1994. Depois de sua morte, sua viúva, Karen Zerby, tornou-se líder da FI.


FLIRTY FISHING

Flirty Fishing (ou FFing) é o nome da forma de prostituição religiosa evangélica praticado entre 1974 e 1987 por mulheres pertencentes ao novo movimento religioso Meninos de Deus, agora conhecido como Família Internacional.



As mulheres do grupo eram encorajadas a demonstrar o amor de Deus através do sexo com pessoas com potencial de serem convertidas. De acordo com a Família Internacional, como resultado do Flirty Fishing "mais de 100.000 receberam a dádiva divina da salvação através de Jesus, e alguns escolheram viver a vida de discípulos e missionários.".

O Flirty Fishing foi oficialmente abandonado pela Família Internacional em 1987 e substituído por outros métodos de testificação, também a fim de evitar que seus membros contraíssem AIDS.






HISTÓRIA

Membros dos Meninos de Deus fundaram comunas, inicialmente chamadas "colônias", e depois "Lares", em várias cidades ao redor do mundo. Eles proselitizavam nas ruas e distribuiam literatura.

Novos convertidos que juntavam-se ao movimento memorizavam escrituras, tomavam aulas de conhecimento bíblico e esperava-se que tentassem igualar as vidas dos primeiros cristãos ao mesmo tempo em que rejeitassem o cristianismo denominacional estabelecido. Assim como convertidos a outras religiões e de acordo com o costume bíblico, a maioria dos novos membros adotaram um nome "bíblico".



O fundador do movimento era um ex-pastor da Christian and Missionary Alliance, David Brandt Berg (1919–1994), também conhecido dentro do grupo por Moses David, Mo, Pai David, and Papá para os membros adultos e eventualmente Avô para os membros mais jovens.

Berg comunicava com seus seguidores através das suas mais de 3.000 cartas publicadas e escritas ao longo de 24 anos, chamadas por membros do grupo de "Cartas de Mo". Em Janeiro de 1972, Berg afirmou através de suas cartas que era o profeta de Deus para essa época, consolidando sua autoridade espiritual no grupo. Não obstante, Berg reconhecia abertamente suas fraquezas e fracassos.

No final de 1972, os membros dos MDD tinham distribuído aproximadamente 42 milhões de folhetos cristãos, a maioria sobre salvação espiritual e o julgamento de Deus sobre os Estados Unidos da América. A distribuição das cartas de Berg nas ruas se tornou o método predominante dos MDD tanto para divulgação como para obter apoio pelos próximos cinco anos.



Os Meninos de Deus terminaram como organização em Fevereiro de 1978. Relatos de sérios desvios de comportamento, má gestão financeira, e abuso de poder por uma parcela dos líderes estabelecidos, incluindo a oposição de alguns ao Flirty Fishing, fez com que Berg reorganizasse o movimento. Ele despediu mais de 300 líderes do movimento e declarou a dissolução da estrutura dos MDD. Essa manobra ficou conhecida como a "Revolução pela Nacionalização e Reorganização"(RNR). Um terço do total dos membros deixou o movimento, e aqueles que ficaram se tornaram parte do movimento reorganizado, A Família do Amor, e depois, simplesmente A Família. É sobre a designação de Familia Internacional que subsiste até agora. A maioria das crenças do grupo, no entanto, não mudaram.




quarta-feira, 26 de maio de 2010

ADELAIDE FERREIRA


Adelaide Ferreira apesar de ter nascido em Minde veio aos 3 anos de idade para as Caldas da Rainha. É uma das nossas!
Dava Tudo, um dos seus maiores êxitos data de 1989 e fez parte da minha reconciliação com a música portuguesa. Lindo!



Dava tudo

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A CAMINHO DA ADOLESCÊNCIA - RUGBY NAS AMOREIRAS



Ainda tenho presente o cheiro distintivo das sapatilhas e dos tacos de madeira encerados do ginásio e dos balneários do Colégio Ramalho Ortigão.

Os balneários ficavam por baixo das escadas que davam acesso ao bar/refeitório orientado pela D. Luisa.Este bar era ponto de encontro obrigatório da parte da manhã para comprarmos os fantásticos queques que a D. Luisa fazia e os caramelos Vaquinha a 3 tostões a unidade (lembras-te Luis Gama?).

Quando almoçávamos, a D. Luisa fazia-nos as delícias com os seus ovos de codorniz estrelados com duas gemas.

Nas tardes de Verão preparava os seus famosos gelados caseiros feitos com refresco Alsa ou Royal que eram colocados em cuvetes no congelador e em cujos cubos espetava um palito. No intervalo grande da tarde sorvíamos estes cubos até não restar mais do que um cubo de gelo, já sem sabor.

No ginásio esforçávamo-nos para aprender os saltos no bock, cada vez mais alto, e para aguentar os exercícios no alto dos espaldares. Os nossos professores de ginástica, primeiro o Prof. Silva Bastos e depois o Prof. Berjano (os rapazes) e a Profª Rosa (as meninas) permitiam-nos, quando o tempo melhorava, ter os exercícios de ginástica nos recreios (ainda separados por sexo) e aí tivemos também as nossas primeiras provas de desporto com o basquetebol e o futebol à cabeça.

Dois dias por semana e ao final da tarde corria ainda para o antigo quartel dos Bombeiros, situado na Rua Miguel Bombarda (ainda hoje conhecida pela Rua dos Bombeiros) onde é hoje o Caldas Shopping.

Nessa altura, os Bombeiros removiam as suas vetustas viaturas do quartel cedendo o espaço para as aulas extra de ginástica. Também o cheiro dos tacos de madeira do quartel e das manchas de óleo cobertas de serradura me ficaram para sempre na memória.

Na Primavera realizava-se o Sarau de ginástica na Praça de Touros onde nos exibíamos por classes etárias e todos sem excepção tínhamos direito a uma medalha ou a um pequeno crachá com o símbolo dos Bombeiros. Recordo-me que os crachás variavam do ouro, prata e bronze ao latão conforme o desempenho que tivéssemos no Sarau e sendo o último dado a título de presença.

A ida para o ciclo na Escola Industrial e Comercial trouxe-nos maiores oportunidades de praticar desportos, iniciando-nos na prática do voleibol e do andebol e desenvolvendo as nossas aptidões na prática do basquetebol e do atletismo (corrida e saltos) com a participação em torneios intra e inter-escolares. Eram os desportos tradicionais que se praticavam em todo o país e para os quais as escolas estavam preparadas em termos de infraestruturas.

Mas no segundo ano do ciclo tivemos uma grande surpresa!

O Prof. Antero ‘’Té’’ Mil Homens era o professor de educação física preferido e mais carismático nos meados dos anos 70. Pelas meninas falem elas, pelos rapazes por causa do seu Mini Cooper S superturbinado com dois carburadores duplos Weber, com paralamas alargados e jantes minilite de 10’, com uma aparelhagem de som de top que incluía uns descomunais headphones daqueles com os auriculares almofadados à anos 70. Mais mais tarde seria o seu VW-Porsche 914 e a sua Honda 750 Four azul a despertar a admiração de todos!

Nas traseiras da Bordalo Pinheiro, onde hoje fica a D. João II, existia um enorme baldio, bastante desnivelado e semeado por algumas amoreiras, donde colhíamos as folhas para os nosso bichos da seda (será que os miúdos ainda os criam?) e que era utilizado por nós para fazer as provas de corta-mato (onde o Mário Fialho ‘’Botas’’ e o Albano limpavam tudo!).

Um dia, o Té chamou-nos a todos e declarou que as próximas aulas de educação física (e também os nossos tempos livres) seriam dedicadas ao verdadeiro trabalho físico.

E toca de nos fazer arrancar e queimar as plantas, aplanar o terreno (à força de pazadas e de baldes (sem máquinas!) e torná-lo apropriado para daí fazer um campo (de futebol, pensávamos nós!). Arranjámos ancinhos, pás , baldes, caixotes, enfim tudo o que servisse para limpar e nivelar o campo.

Ao fim de um trimestre tínhamos a obra concluída e uma surpresa à nossa espera. Um belo dia, um camião chegou trazendo duas enormes balizas de rugby e com a nossa ajuda estas foram erguidas nas extremidades do terreno. Tinha nascido o primeiro campo de rugby das Caldas!

No trimestre seguinte, já nem queríamos outra coisa, as aulas masculinas (as meninas tinham aulas com a D. Rosa que isto das misturas ficou para mais tarde!) passaram a ter como principal componente a prática de rugby e termos como tackle, knock-on, drop-kick, scrum ou try (ensaio) passaram a fazer parte do nosso vocabulário diário.

Estávamos no Inverno de 1974/1975 e as minhas costas nunca mais foram as mesmas!



Ao meu querido amigo António Vidigal que hoje completa umas tantas Primaveras (e melhores Verões!) e a todos os que desde o tempo do Té se empenharam para que o Rugby, a modalidade desportiva que melhor exalta o espirito de camaradagem, se mantenha e se dinamize na nossa cidade.



"Rugby is a beastly game played by gentlemen; football is a gentlemen’s game played by beasts; american football is a beastly game played by beasts."

Henry Blaha

domingo, 23 de maio de 2010

DE REGRESSO A CASA





Tínhamos uma forma de regressar a casa, depois de terminar a aula na escola primária da Praça do Peixe deveras “peculiar”. …..

Depois de acalmada a correria inicial após a saída, a primeira paragem era logo na porta ao lado da porta da Escola, na Drogaria Mimosa (mesmo ao lado), o nosso olhar consumia diariamente a montra, que, se bem me lembro, mudou só uma vez a sua decoração quando alguém partiu o vidro e foi necessário substitui-lo.

Mas nada de novo se passava na montra, mas não sei porque raio, tínhamos um encanto pela montra, o que é certo é que olhávamos quase de olhos fora das orbitas para as embalagens com produtos químicos expostos com as magnificas e proibidas caveiras pequenas na parte inferior da embalagem, que passavam imensos meses na montra sempre brindadas com a nossa admiração diária.

Talvez a curiosidade fosse pelo medo que os nossos pais nos induziam acerca daqueles produtos. Após termos saciado a curiosidade com as drogas na montra da drogaria descíamos até á mercearia do Pena.

Olhávamos para as caras de bacalhau e para as línguas de bacalhau expostas á porta de entrada com um ar de enjoados do pior, aliás não me esqueço de enormes bacalhaus pendurados nas partes laterais das portas da mercearia, por cima das castanhas, nozes e amendoins, com uns papeis brancos agarrados a meio, com letras estilizadas de cor azul, “ Bacalhau da Noruega só no Pena” .

Houve alturas que uma ou outra língua de bacalhau era usada para atazanar alguém, ia parar á mala de algum mais distraído, claro está, que depois levava uma bronca das grossas pelo cheiro que aquele pequenino pedaço de peixe salgado produzia dentro da mala no quarto de quem fosse brindado.

Sempre que o empregado suspeitava de algo, lá estávamos nós com as caritas de anjo na primeira fila do sorriso, como se nada tivesse acontecido. Mas aquela mercearia, possuía ainda mais duas outras mais-valias, uma era aquele cheiro a café incrível, que nos entrava pelo nariz de tal modo que se tornava egoísta, não deixando entrar outros cheiros.

Bom mas esses cheiros faziam os caldenses passarem pelo menos duas vezes por mês no “Pena” para comprar um pacote de café, em papel de cores coloridas esbatidas, que se fechava no topo com a dobragem da parte superior do pacote do qual resultavam, dois triângulos rectângulos que ficavam opostos, mas que muitíssimas vezes eram atados com a passagem da guita numa das dobras que nessa altura usavam e partiam, com uma perícia de ourives em todas as lojas.

Muitas vezes, tentei nessa altura partir o raio da guita e nadaaaaa…

A outra mais-valia do Pena era sem duvida o sitio onde íamos comprar umas pastilhas de nome pirata que faziam uns balões, maiores que as nossas cabeças. Por imensas vezes metemo-nos em sarilhos com essas “performances”, brindando com alguns pedaços de pastilha esticada resultantes dos estoiros desses balões algumas das pessoas que pela praça do peixe, passavam e se cruzavam connosco nos momentos da grande “arte do balonismo”,

Bom até ai seria tudo tranquilo, mas as contra-indicações dessa brincadeira fazia-nos aparecer por vezes após o intervalo, com os cabelos cheios de pastilha, o que nos valia sempre valente reprimenda do professor e por norma, um corte de cabelo bem mais curto, no meu caso no meu tio Hermínio em frente ao antigo quartel da GNR.

Bom já consegui andar 20 metros desde a porta de saída da escola…..nada mal.

Entravamos então na rua Heróis da Grande Guerra onde o nº125 me esperava todos os dias por volta das 13h30, cruzávamo-nos então pelo Ramiro e com as suas montras em curva, onde estava sempre dois manequins masculinos e um feminino, eles de fatos completos, sempre escuros com umas gravatas brilhantes numas posições de Peter Pan, enquanto o manequim feminino, sempre vestido de noiva, coisa que achávamos na altura uma chatice ‘’coitada da mulher tinha de levar aquilo tudo vestido’’ pensávamos nós terríveis “cavaleiros da arte de bem vestir”.



Era então ai, que se dava o inicio da corrida que religiosamente todos os dias iniciávamos nessa parte da rua para executar um salto, na tentativa de chegar a um sinal de trânsito, para aferir a nossa altura já que a loja a seguir ao Ramiro nunca nos cativou, vendia, pratos e serviços de chá os quais achávamos uma tremenda de uma chatice.

Esse sinal estava num suporte que estava cravado na parede antes da padaria que existia na altura e que vendia uns bolos em forma de rim e uns triângulos de coco com os quais ainda hoje me perco, formidáveis acreditem, bolos incríveis comemos nós ai.

Refeitos do esforço sobre humano para nós na altura na vã tentativa de perceber se poderíamos chegar ao sinal, cruzávamo-nos com uma loja que vendia tachos e panelas de alumínio com as pegas pretas e artigos em plástico, que tinha umas portas exteriores verdes, que misturava a madeira com algumas varas de ferro fundido trabalhado.

Com a nossa correria de vez em quando brindávamos os plásticos com uns ligeiros pedidos de licença para passar, nunca aceites por eles, e o resultado era, projecção para a estrada, para um espaço que estava normalmente reservado com duas caixas de madeira e duas tábuas em cima delas em jeito de hipotenusa, para que as camionetas pudessem descarregar as rações para a loja que estava a seguir.

No cruzamento da primeira estrada que tínhamos de atravessar existia e acho que ainda existe uma loja que vendi-a malhas e que mostrava garbosamente os seus pullover´s de lã virgem em manequins de meio corpo sem cabeça, nas suas pequenas montras de meia altura, tapados com uns papeis transparentes amarelos e verdes nas horas de maior luminosidade, estando no interior da loja uma senhora com um ar carrancudo que nunca nos cativou para dar-nos liberdade á nossa curiosidade e criatividade nos lanifícios de pura lã virgem.

Depois de passado este cruzamento aparecia um talho do qual não me lembro o nome, que nos gastava alguns momentos a olhar de caras coladas á montra de narizes apertados de encontro ao vidro para as peças de carne penduradas, prontas a serem vendidas Os empregados de bata branca com alguns vestígios de sangue, andavam de um lado para o outro a afiar vigorosamente as suas facas de lâmina enorme, no fuso.

Era com essas enormes facas que para nós na altura pareciam espadas que talhavam os bifes e as bifanas, de pedaços que retiravam das pernas enormes de vaca e das peças inteiras do porco para as senhoras de penteados de caracóis e pregadeiras cheias de pedras reluzentes, com saias e casacos do mesmo tecido, que levavam sempre uma sesta rectangular de sisal ou algo do género que tinha uns riscos na horizontal verdes e encarnados e uma pega desse material entrelaçado.

Quando a acção deixava de ser interessante, passávamos para a próxima paragem que era sempre muito curta, pois o nosso forte nunca foi os sapatos, a sapataria Macadi, com a sua mistura de sapatos e botas nas montras e na exposição de exterior eram meras bolas brilhantes na arvore de natal para nós.
O que nos fazia deslizar um pouco mais na rua fazendo-nos passar entretanto pelo depósitos de pesticidas da Sapec, que tinha um portão enorme onde hoje é uma rua, além disso tinha também, uma montra enorme talvez a maior das Caldas durante décadas, apesar de escondida, sitio esse que nos dava abrigo aquando de algumas chuvadas mais fortes, mas que o cheiro de pesticidas nos fazia sair dali rapidamente, pois aquele cheiro provocava uma terrível má vizinhança.

Com alguma pena a minha casa estava a aproximar-se e como desde novinho aprendi, que á volta do burgo, não se queima as cortinas a contenção e o portar bem, tinha de estar no ponto todos os dias nesta aproximação a casa, não fosse alguma vizinha ou amiga da minha mãe estar plantada na janela a ver as modas a passar na rua.

Tendo ainda de passar pela Alliance Francaise e atravessar a rua do quartel dos bombeiros (era assim que a chamávamos), que possibilitava aos carros voltarem para a rua Heróis da Grande Guerra ou continuar para a Almirante Reis (rua das Montras, hoje estas ruas não tem transito), bem como pelo Gil com os seus vidros e espelhos.

Mas por último vinha o supermercado Nutripol que para a altura era quase uma inovação com o carrancudo do Sr. Ribeiro sempre a olhar para nós quando nos vi-a a comprar uns chocolates e uns Sugus ou Smarties em dias de algumas prendas monetárias.

Retirava a chave de casa da mala que sempre usava nas costas, metendo-a na fechadura rodando-a com frenesim, para uma subida de escadas tipo míssil, em direcção ao sofá para assistir ao final da emissão da RTP 1 que nessa altura acabava às duas da tarde.

Era assim um simples regressar a casa depois do fim das aulas na Escola Primária às 13h00, percorrendo pouco mais de 400 metros …


(post do António José Albano)


Cat Stevens - Remember The Days Of The Old Schoolyard

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ERA UMA VEZ…




Era uma vez um reino onde viviam um rei, uma rainha, a rainha-mãe e duas princesinhas.

As duas princesinhas eram lindas, tímidas e delicadas.

Uma era ruiva e sardenta com uma densa cabeleira aos caracóis. Era introvertida e detestava os caracóis e as sardas. Quando sorria baixava o olhar como se não lhe fosse permitido mostrar a alegria. Tinha uma beleza rara mas por não ser vulgar não a percebia e sentia-se, infundadamente, menos bela que a irmã.

A outra princesa tinha o cabelo louro e uma tez alva, parecendo uma boneca de porcelana. Era porventura a mais bela donzela do reino. Também mais extrovertida nas brincadeiras e nos sorrisos que a sua irmã mas não menos reservada no trato.

O pequeno cavaleiro adorava visitar as princesas ao seu castelo. Adorava correr as divisões e os vários pisos daquele castelo, descomunal quando comparado com a sua própria casa. Brincava com as princesas na mansarda, pelos pátios e jardins mas era sobretudo nas antigas masmorras que se passava a maior parte da brincadeira.

Aí, entre as peles e curtumes descobriam as pedras de pez e juntavam-nas no seu tesouro como se de âmbar se tratasse. Era bem verdade que as princesas tinham umas pedras de quartzo colorido com mais valor, mas estas eram escassas e muito guardadas.

A Rainha, bondosa e extremosa, adorava que o pequeno cavaleiro se juntasse à companhia das princesas, quase sempre isoladas no seu grande castelo.

Relevava as mãos sujas e as caras mascarradas como apareciam, e chamava-os com alegria para o lanche.

Os olhos do pequeno cavaleiro abriam-se de espanto e alegria perante a diversidade e abundância do festim. Cada lanche preparado pela Rainha era um momento inolvidável que iria permanecer para sempre na sua memória e sobretudo pela atenção e o afecto que eram colocados nestes lanches com que o recebiam no castelo.

Com a Rainha aprendeu os primeiros trabalhos manuais e as primeiras palavras de francês. Com Rainha aprendeu a cantar duas baladas que o seguiram pela vida fora:

Le Petit Train

Le petit train
S'en va dans la campagne
Va et vient
Poursuit son chemin

Serpentin
De bois et de feraille
Rouille et vert de gris
Sous la pluie

Il est beau
Quand le soleil l'enflamme
Au couchant
à travers champs

Les chapeaux
Des paysannes
Ondulent sous le vent

Elles rient
Parfois jusqu'aux larmes
En rêvant à leurs amants

L'avoine est déjà germée
As-tu rentré le blé?
Cette année les vaches ont fait
Des hectolitres de lait

Petit train
Où t'en vas-tu?
Train de la mort
Mais que fais-tu?
Le referas-tu encore?

Personne ne sait ce qui s'y fait
Personne ne croit
Il faut qu'il voie
Mais moi je suis quand même là

Le petit train
Dans la campagne
Et les enfants?

Les petit train
Dans la montagne
Les grands-parents

Petit train
Conduis-les aux flammes
à travers champs

Le petit train
S'en va dans la campagne
Va et vient
Poursuit son chemin
Serpentin de bois, de feraille
Marron et gris
Sous la pluie

Reverra-t-on
Une autre fois
Passer des trains
Comme autre fois?
C'est pas moi qui répondra



Personne ne sait
Ce qui s'y fait
Personne en croit
Il faut qu'il voit
Mais moi je suis quand même là

Petit train
Où t'en vas-tu?
Train de la mort
Mais que fais-tu?
Le referas-tu encore?

Reverra-t-on une autre fois
Passer des trains comme celui-là?
C'est pas moi qui répondra


E também:

Sur Le Pont D’Avignon
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les beaux messieurs font comm' çà
Et puis encore comm' çà

Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les bell' dames font comm' çà
Et puis encore comm' çà

Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les jardiniers font comm' çà
Et puis encore comm' çà

Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les couturiers font comm' çà
Et puis encore comm' çà
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les vignerons font comm' çà
Et puis encore comm' çà

Sur le pont d'Avignon
L'on y danse, l'on y danse
Sur le pont d'Avignon
L'on y danse tous en rond
Les blanchisseus's font comm' çà
Et puis encore comm' çà


À noite a Rainha juntava as suas princesinhas e o pequeno cavaleiro na varanda do seu castelo e fazia-os observar as estrelas que brilhavam no céu.

- Aqueles são os nossos Anjos da Guarda. Os nossos entes queridos que já partiram e que estão no Céu a velar por nós.

E o pequeno cavaleiro mirava as estrelas e fixando uma mais resplandecente pensava no seu irmão mais novo que morrera à nascença e entoava:

Anjo da Guarda
Minha Companhia
Guarda a minha Alma
De Noite e de Dia.

Algumas vezes por ano, davam-se os momentos mais aguardados, fidalgos e donzelas, cavaleiros e pagens, aias e princesas eram convidados pelo arauto para participar nos bailes em honra das princesas que poderiam ocorrer nos seus aniversários ou nas festas de Carnaval, no Grande Palácio do Reino.

E com mãos de fada, num dom incomparável, a Rainha pegava em papel de seda, em fitas coloridas e em colas , vernizes e tintas, em cartolinas, ráfias e guitas, em veludos, contas e missangas e para todos criava numa explosão de cor e fantasia, os trajes que cada um levaria aos bailes.

Eram reis extremosos com as suas princesas sempre as acompanhando a todos os recitais, sentando-se em família no camarote principal. Quantas vezes o pequeno cavaleiro foi convidado a subir ao camarote e quantas vezes as princesas suplicaram para descer para junto do pequeno cavaleiro e da sua companhia!

Pais mais dedicados às suas filhas nunca houve e estas crescerem num ambiente feliz e protector.


Ao crescerem, os Reis nomearam o pequeno cavaleiro protector das princesas. Serás porventura um Cavaleiro Andante mas serás o seu Paladino, o seu Lancelot!

E o pequeno cavaleiro cresceu junto das duas princesas acompanhando-as pela infância e juventude.

Sempre que um cavaleiro aparecia como pretendente a uma das princesas ou meramente pretendendo ser o seu par num baile do reino, a Rainha não lhe perguntava primeiro quem era, quem eram seus pais ou donde vinha. A sua primeira pergunta era ‘’Sois amigo do pequeno cavaleiro?’’ e em resposta afirmativa um sorriso se abria e a permissão era concedida sem mais perguntas ou entraves.

Dois momentos contudo vieram perturbar a felicidade do reino. A morte da Rainha-Mãe e mais tarde do amado Rei.

Na Rainha e nas suas princesas instalou-se uma melancolia que esteve sempre presente por toda a vida mesmo que disfarçada pelos lindos sorrisos com que brindavam os seus amigos.

Mas certamente, sempre que caía a noite, olhavam para o céu e viam as duas estrelas mais resplandecentes a brilharem para elas e no seu intimo oravam sorrindo:

Anjo da Guarda
Minha Companhia
Guarda a minha Alma
De Noite e de Dia

O pequeno cavaleiro cresceu mas a Rainha esteve sempre presente na sua vida, acompanhando o seu progresso nas letras e ofícios e o seu desembaraço nas lides das armas e da diplomacia, o métier de um bom cavaleiro.

Nunca lhe faltou com uma palavra de apoio, de simpatia ou de conforto.

Quando o pequeno cavaleiro agora já crescido decidiu cortejar e mais tarde casar com uma princesa de fora do reino, muitos foram os que discordaram e quase levantaram armas. Mas a Rainha um dia vendo-o enquanto passeava, saiu da sua comitiva e dirigiu-se ao cavaleiro dando-lhe o apoio e a concordância que ele precisava.

- O amor vence! O amor é tudo!

E mais tarde quando o cavaleiro apareceu com o seus pequenos rebentos, de novo a Rainha se lhe dirigiu e acariciando as faces dos pequenos querubins manifestou uma alegria só comparável à que sentia pelas suas próprias netas.

E o pequeno, agora crescido cavaleiro, lembrou com saudade os tempos das correrias no castelo, as palavras do primeiro francês e as escoltas às princesas no caminho para a escola.

Um dia a Rainha adoeceu, o seu espírito batalhou entre o desejo de se reunir com o seu amado e bondoso Rei e a sua saudosa mãe e a vontade de permanecer e manter o braço protector sobre as suas princesas.

Foi uma batalha longa, dura e corajosa. Não importasse a duração e a dureza do combate, as duas princesas permaneceram juntas com a sua mãe, sofrendo com ela, serenando com ela.

Até que um dia compreenderam que o tempo era chegado. A Rainha já sofrera o suficiente na luta inglória contra um destino que a afastava fisicamente das suas filhas.

Era tempo de partir. Era tempo de finalmente poder juntar-se ao seu querido Rei, à sua querida mãe e a todos os que tinham feito parte da sua vida, que a tinham acompanhado nos tempos de princesa, nos tempos dos sonhos e dos desejos.

Então o seu espírito partiu. Elevou-se no ar e metamorfoseou-se numa estrela, juntando-se a todas as outras que brilham no céu.

E há noite, as duas princesas e as duas pequenas princesinhas olharam para o céu e viram não duas mas três estrelas a brilhar mais forte.

E ao longe o cavaleiro tornou-se de novo criança e orou:

Anjo da Guarda
Minha Companhia
Guarda a minha Alma
De Noite e de Dia

E fez uma genuflexão e erguendo uma taça brindou:

Longa Vida à Rainha
Que viva sempre nos nossos corações!


“As pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém… Quero dizer: quando olhares o céu de noite, (porque habitarei uma delas e estarei rindo), então será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem sorrir! Assim, tu te sentirás contente por me teres conhecido. Tu serás sempre meu amigo (basta olhar para o céu e estarei lá). Terás vontade de rir comigo. E abrirá, às vezes, a janela à toa, por gosto… e teus amigos ficarão espantados de ouvir-te rir olhando o céu. Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!”

(Antoine de Saint-Exupéry - O Pequeno Principe)

In Memoriam IC




Sur le pont d'Avignon



Rita Mitsouko- Le petit train



quarta-feira, 19 de maio de 2010

COCA-COLA SENSAÇÃO DE VIVER


...apesar de não ter nascido nas Caldas, Adelaide Ferreira passou a maioria da sua infância e toda a adolescência nas Caldas. A sua extraordinária voz deu-nos o jingle mais famoso dos anos 80

É provavelmente o “jingle” da marca com mais sucesso em Portugal. Lançado em 1988, o anúncio sob a assinatura “Sensação de Viver” marcou toda uma geração que hoje ainda sabe de cor a letra da música.




...E era cantado pela ''nossa'' Adelaide Ferreira, uma honra para as Caldas.

Dançar

Sentir a emoção de uma coca-cola

Sensação de viver

Vou dançar até o dia acabar

Sentir a música que paira no ar
A
Sentir o ritmo que me faz vibrar
hey hey hey

Não posso deixar de partilhar esta emoção a valer

Cantar

Dançar

Sentir a emoção de uma coca-cola
Coca-cola,
sensação de viver…



Coca-Cola Sensação de Viver

O FERRO VELHO



A história do Ferro Velho começa quando Jorge Sales, aos 35 anos, abriu o espaço no dia 24 de Abril de 1972, com o seu amigo Pedro Félix, que era também colega de trabalho no aeroporto, no sector do turismo.


“Em conversas achámos engraçado abrir uma discoteca. Tivemos várias hipóteses desde a construção de uma de raiz ou alugar um espaço. Acabámos por escolher o Ferro Velho, em detrimento do Inferno da Azenha. Naquela altura funcionavam ambas como discoteca particulares”, recordou.


Jorge Sales revelou que a sua escolha se deveu ao facto de na altura já o Ferro Velho ter funcionado como discoteca e por ter mais condições, uma vez que já tinha uma casa de banho.


Também o facto do Ferro Velho ter aberto oficialmente em 1968 com festas, pelo seu proprietário Vasco Luís, foi outra das razões que o levaram a optar por esta escolha, uma vez que tinha licença da Direcção Geral de Espectáculos.


O primeiro dono do Ferro Velho foi assim Vasco Luís, proprietário da Quinta do Avenal e que abria particularmente o espaço. Mesmo assim, problemas com directores do Casino, situado no Parque D. Carlos I, que fizeram queixa à Direcção Geral de Espectáculos, pelo que veio a obter a licença em 1968.




O Ferro Velho, pela mão de Jorge Sales e Pedro Félix, abria ao fim-de-semana e em Agosto todos os dias e centenas de pessoas rumavam ao local, uma vez que não havia discotecas num raio de 50 quilómetros.


“Discotecas só em Lisboa, ou em Torres, o Túnel. De resto não havia mais nada”, lembrou Jorge Sales.


A sociedade destes dois amigos terminou um ano depois, tendo Jorge Sales e a sua mulher Alice seguido o negócio até 1983, altura em que foi vendido. Na década de 90 encerraria as portas.


O Ferro Velho contribuiu para o crescimento da cidade das Caldas, não só pelos namoros e alguns casamentos que proporcionou, mas porque muitas pessoas de fora da região se deslocavam à casa da moda, uma vez que pela sua profissão no aeroporto de Lisboa, Jorge Sales conseguia ter música actual.


“Antes um álbum chegava ao nosso país um ano depois de ter saído nos Estados Unidos, mas como tinha acesso em viagens aos Estados Unidos, comprava muitos discos, que duravam mais de um ano. Na altura era uma grande novidade, agora as músicas saem às 10 horas em Nova Iorque e cerca de meia hora depois está em todo o Mundo”, declarou.


in Jornal das Caldas. Edição On-line 22 Abril 2009
















Bob Seger - Still The Same (1978)



Bob Seger - Rare Against The Wind Live



Bob Seger - We've got tonight (1978)