terça-feira, 17 de agosto de 2010

UM CARNAVAL PERFUMADO



As noites de Carnaval nas Caldas eram sempre algo de muito especial e olhando a esta distância não sei como era possível nós ‘’arrancarmos’’ à sexta feira à noite e só pararmos na cama na Quarta-Feira de Cinzas!

O ambiente nas Caldas era fantástico e inúmeros bailes de máscaras concorriam entre si na animação da cidade. Haviam os bailes do Casino, do Hotel Lisbonense, da Columbófila, dos Pimpões e dos Bombeiros, estes três últimos não onde agora ficam situados mas nas suas instalações originais, a Columbófila no mesmo sitio mas no edifício original, sem o pavilhão da esquina, os Pimpões em frente ao que é hoje a Farmácia Perdigão (a farmácia que existia na altura era a Correia Mendes , alguns metros mais acima) e os Bombeiros no cruzamento da Rua Raul Proença com a Rua Miguel Bombarda, onde agora fica o Caldas Shopping.

Para além disso as discotecas Inferno da Azenha e Ferro Velho surgiam como alternativas a quem não gostava dos bailes.

Parecia que toda a cidade vivia intensamente o Carnaval. As principais empresas da região tinham os seus carros alegóricos e a ida ao Corso nas tardes de Domingo e Terça-Feira eram obrigatórias.

À noite juntavam-se as troupes ou grupos de amigos que se mascaravam de acordo com um tema e lembro-me dos irmãos metralhas, dos fantasmas e muito particularmente o grupo de palhaços do Joca Pimenta, Mário Felizardo, Agapito,do João Pedro ‘’Catatau’’ e tantos outros e ainda do grupo que utilizava sempre os fatos que em cada ano eram confeccionados pela Guida Godinho (lembram-se das abelhas Maia?!). Estas troupes participavam em assaltos a casa dos amigos e também a locais públicos como os cafés. Muitas vezes metiam-se com os seus próprios familiares sem que eles os reconhecessem!

O espírito era tal que uma vez trouxe um colega de universidade passar cá o Carnaval e como não havia na altura os multibancos, houve necessidade de ir levantar dinheiro antes que os bancos encerrassem, assim na sexta-feira fomos ao BES e um funcionário que nessa altura lá trabalhava atendeu-nos ao balcão de cabeleira loura e baton nos lábios. Imaginem a cara do meu amigo e sobretudo imaginem isso nos tempos que correm com o cinzentismo que impera nos bancos!

Numa dessas noites fomos todos para o Ferro Velho (nos tempos em que eu ainda tinha pachorra para o EU VI A EVA DE MINI-SAIA, AURORA, NÓS OS CARECAS, TOMARA QUE CHOVA, VAI VER QUE É, CHIQUITA BACANA, BALANCÊ, DAQUI NÃO SAIO, MAMÃE EU QUERO, CACHAÇA NÃO É ÁGUA, CIDADE MARAVILHOSA, AI MORENA, MORO NUM PAÍS TROPICAL, ME DÁ UM DINHEIRO AÍ, QUEM SABE, SABE, TRISTEZA, YES, NÓS TEMOS BANANAS, e outras iguais!) para mais uma dessas directas.

Estávamos em grupo sentados na conversa na sala de entrada quando chega uma troupe de velhinhas saloias, de máscara de plástico e lenço na cabeça constituído pela Fatocas Crespo, o meu querido Pedro Cardoso, a Elza, a Milai, o Raulzinho (Rodolfo ou Papillon, conforme a alcunha!), a Elsinha Magalhães e mais alguns, e começam a meter-se connosco (e nós sem sabermos quem eram!) e de repente sacam de uns borrifadores de perfume dos antigos (Rita Lee cantava Lança, Lança Perfume!) e dão-nos um banho de TABÚ e PATCHOULI!

Os que se lembram dessas duas supremas essências recordam-se que para além de serem simplesmente horríveis, eram extremamente activos e duradouros. Ficámos com um pivete insuportável em toda a roupa e as pessoas afastavam-se de nós na pista de dança. Uns abnegados conseguiram aguentar toda a noite apesar da segregação a que foram votados mas para muitos de nós o único remédio foi ir a casa e trocar de roupa. Mas apesar dos duches e dos quilos de sabonete, parecia que o cheiro se agarrara a nós e que iria perdurar por toda a semana.

Devo ter perdido muitas potenciais namoradas naquele Carnaval!





Rita Lee -  Lança-Perfume

Banda Paradigma - Marchinhas de Carnaval


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