sexta-feira, 18 de junho de 2010

A CAMINHO DA ADOLESCÊNCIA - O EXAME DA QUARTA CLASSE




Hoje em todo o país, dezenas de milhares de crianças concluem o ano lectivo do primeiro ciclo, antiga Primária. E destes, alguns milhares, incluindo o meu filho Francisco, concluiram a antiga quarta classe.
Em 1973, eu e os meus colegas de classe, preparámo-nos com afinco para os exames finais da quarta classe. Estudávamos no Externato Ramalho Ortigão, vulgo O Colégio, que não possuía autonomia pedagógica, razão porque esse exame teria de ser efectuado numa escola oficial.
Essa contingência aumentava a nossa preocupação e durante semanas preparámo-nos metodicamente, simulando as provas com que nos iriamos confrontar.
O grau de exigência do Colégio e a grande competência e carinho da nossa professora, a D. Esperança, atenuou contudo qualquer dificuldade na nossa preparação e sentíamo-nos perfeitamente aptos quando chegou o grande dia. Isso não fez diminuir contudo os nossos nervos!
Éramos poucos rapazes na turma, apenas quatro dos cinco que tinham iniciado a primeira classe. Eu, o grande Zé-Tó, o Luis Filipe Gomes e o Louis Borga Gomes (o Luis André tinha ido para Alcobaça no final da segunda classe). Tal como os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas éramos quatro, e durante quatro anos repartimos um mundo de aventuras, fantasia e muita brincadeira.
Recordo entre as nossas colegas, a Luisinha Canela Lopes, a Teresa Ferreira, a Bibú Castro, a Xú-Xú (Cristina Vazão de Almeida), a Ana Monroy, a Kikas Gama (Ana Homem de Barros), a Luisa Jordão, a Teresa Lourenço, a Ana Paula Duarte, a Misá (Maria do Rosário Carvalho Dias) e a Paqui (Paula Almeida).
Repartíamos a sala de aulas com a segunda classe que já nos acompanhava desde o ano anterior, como era tradição no Colégio. Duas classes com a D. Esperança, duas classes com a D.Clarisse, dependendo do ano em que iniciávamos a Primária. Faziamos depois toda a Primária com a mesma professora. A D. Dora dava o apoio escolar da parte da tarde, a todas as classes.
No dia agendado reunimo-nos na Escola Primária da Policia de Trânsito, diante do antigo Parque de Campismo, no parque, por cima do ténis.
O facto dos exames serem efectuados noutra escola e por professores desconhecidos, aumentou a nossa ansiedade mas felizmente saímo-nos na perfeição. Não me recordo já do teor dos exames mas recordo-me que tínhamos uma prova de trabalhos manuais em que construí uma caravela de cartolina e arame, longamente treinada nas aulas de preparação, o nome que lhe dei guardo-o para mim mas trago na memória com carinho que a D. Esperança insistiu em guardar depois esse barco de cartolina que durante muito tempo figurou na sua sala de aulas.
Saí um pouco mais cedo dos exames e aguardei com preocupação a saída dos meus colegas, receava que por ter concluído as provas em primeiro lugar pudesse indicar que tinha falhado alguma pergunta. Sentei-me junto ao passeio na companhia dos meus pais e dos outros pais e a ansiedade aumentava a cada minuto que passava. Não deve ter contudo demorado muito tempo antes que, um por um, os meus amigos começassem a sair. O confronto de respostas dava-nos alento para aguardar pelos resultados. Após a saída do último reunimo-nos com um pouco mais de alegria e nem parecia já que esperávamos pela saída dos resultados.
Passados alguns minutos saiu da escola a D. Esperança com um sorriso de satisfação nos lábios. Tinha dialogado com os outros professores que estavam a avaliar as provas e as expectativas eram muito boas.
Finalmente sairam os resultados e juntámo-nos todos numa grande festa na rua.
Passados todos estes anos continuo a ver com alguma frequência quase todos eles. Amizades para a vida!
Éramos poucos entre alguns, passámos a ser poucos entre muitos mas os laços criados pela convivência e forte espírito de identidade desse tempo no Colégio manteve-nos unidos ao longo de todos estes anos.


A todos os meus colegas da primária no Externato Ramalho Ortigão
que contribuíram tanto para que tivesse uma infância tão feliz.

À D. Esperança.
Enquanto eu viver, viverá em mim!

Ao José Manuel Cabaços.
Obrigado por me ajudares a educar o meu filho da forma como o fizeste.

Ao meu filho Francisco.
Que a escola te continue a trazer tantos momentos felizes,
professores inesquecíveis
e tão grandes amizades como me trouxe a mim.












Jacques Brel - L'Enfance

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